Os surtos de gripe fora de época registrados em vários Estados do País geraram um aumento na busca de vacinas contra a Influenza em clínicas particulares de Bauru neste final de ano. Embora a doença ainda não tenha gerado grandes impactos nos hospitais da cidade e o imunizante com a proteção específica contra a nova cepa da H3N2, a Darwin, tenha previsão de chegar ao Brasil apenas em março de 2022, a vacina hoje disponível no mercado tem sido indicada.
A aposta ocorre diante da possibilidade de proteção cruzada, a qual sugere que os anticorpos gerados pela vacina da Influenza de 2021 possam atenuar os sintomas da Darwin. Infectologista das redes pública e privada de Bauru, Taylor Endrigo Toscano Olivo ressalta a importância da imunização, especialmente aos idosos e às pessoas com comorbidades.
"É interessante que as pessoas que ainda não se vacinaram o façam, mesmo que a oferta da vacina não seja mais tanta. É importante, principalmente, para quem tem problemas de saúde e idosos, porque é uma doença que acaba descompensando outras. Se o paciente tem uma insuficiência renal, por exemplo, ela pode piorar. Se tem um problema cardíaco, ele pode infartar. Inclusive, há uma associação muito alta entre gripe e infarto", pontua o infectologista.
"A gripe é uma porta de entrada para a pneumonia bacteriana. Então, ao se vacinar, você também diminui este risco e as possibilidades de complicações, como uma sepse e infecções graves", completa.
PROCURA
Assim como os surtos de gripe pelo País em pleno verão, a busca por vacinas da Influenza em Bauru ocorre fora de época, ou seja, após o fim da campanha pública, que foi iniciada em abril e encerrada em agosto deste ano. Hoje, as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) realizam a aplicação do imunizante apenas em crianças de até 2 anos e em gestantes.
Segundo a reportagem apurou, na rede particular, o valor desembolsado pela vacina varia entre R$ 94,00 e R$ 120,00.
Em uma clínica privada, que possui duas unidades no município, o número de aplicações do imunizante multiplicou nestas últimas semanas. "É uma vacina que não era mais procurada desde o fim de agosto, mas, de segunda-feira (13) para cá, isso mudou e as pessoas têm buscado se vacinar. Foram mais de 20 aplicações só aqui em poucos dias", comenta Juliana Sanches, gerente da unidade.
Outro centro de vacinação particular em Bauru também confirma que, há cerca de duas semanas, as ligações e visitas ao local cresceram. "Nós ainda temos a vacina e aplicamos. Alertamos as pessoas que o imunizante não protege contra a nova cepa, mas, mesmo assim, a opção é por se vacinar", informou uma funcionária, que pediu para ter a identidade preservada.
NOVA CEPA
A vacina da Influenza de 2021 protege contra os subtipos A da doença, chamados H1N1 e H3N2 (somente a cepa Hong Kong), além de também possuir a "blindagem" contra a Influenza B.
A primeira variação da H3N2, a cepa de Hong Kong, foi descoberta na década de 60 e, assim, é coberta pelo imunizante hoje disponível. Contudo, esse vírus teve uma mutação, a Darwin, identificada na Austrália neste ano. É a proteção contra esta nova cepa que não integra a vacina que hoje circula no mercado.
Para Taylor Endrigo Toscano Olivo, a nova variante é resultado da mudança comportamental da população. "Durante a pandemia, houve baixa adesão vacinal [contra a Influenza]. E, agora, as pessoas passaram a se movimentar mais, viajar e parar de usar máscaras, o que tornou o ambiente propício para a disseminação da doença e a mutação", pontua o médico.
Apesar de ainda não ser classificada como uma variante de preocupação, a cepa Darwin foi suficiente para aumentar os atendimentos nos prontos-socorros e internações nos hospitais do Rio de Janeiro, São Paulo e vários outros Estados, como o JC tem noticiado (leia mais na página 21).
GRIPE OU COVID?
"Os sintomas são os de uma gripe habitual. O paciente apresenta dor no corpo, diferentemente da fadiga da dengue e da Covid-19. A febre alta também é comum logo no começo dos sintomas, já a Covid apresenta febre alta no quinto ou sexto dia. A gripe também vem acompanhada de coriza e tosse carregada, e a Covid apresenta tosse mais seca", compara o médico.
Taylor Oliva ressalta, contudo, que o diagnóstico clínico é praticamente impossível e que o exame PCR deve ser exigido.