
'Não Olhe para Cima" começa como um filme normal de meteorito prestes a acabar com a vida na Terra. Mas pouco depois que a descoberta é feita numa universidade do estado americano de Michigan o tom começa a mudar. Os dois cientistas, o doutor Mindy, papel de Leonardo DiCaprio, e Kate Dibiasky, papel de Jennifer Lawrence, são chamados com urgência a Washington - à Casa Branca, mais precisamente.
Mas, em vez de serem atendidos de imediato pela presidente Meryl Streep, levam um chá de cadeira de sete horas. Motivo: o fulano indicado para a Suprema Corte pela personagem de Streep está para ser bloqueado, tais e tantas são as sujeiras que tem em sua folha corrida.
Desde então a Casa Branca começa a ser o palco de uma comédia burlesca, com uma presidente dedicada em tempo integral a ganhar as próximas eleições legislativas. Ela entende que do meteorito prestes a acabar com o planeta pode cuidar mais tarde.
Admitamos, ela está longe de ser a única irresponsável do pedaço. Por exemplo, a diretora-geral da Nasa não defende os cientistas. Mas ela foi indicada pela presidente. É uma anestesiologista, quer dizer, não entende bulhufas de assuntos espaciais - em compensação é uma importante doadora da campanha da presidente.
Desde então, Adam McKay está em seu ambiente natural - a oposição aos usos e costumes dos Estados Unidos do século 21. Assim, a substituição do jornalismo pela mídia, a submissão da ciência à mídia, o poder de sedução da mídia - aqui representada por Cate Blanchett - , a busca de audiência a todo preço, o cuidado obsessivo com as pesquisas e com os "likes", a política como um espetáculo cada vez mais vagabundo, a transformação definitiva dos doadores de campanha em investidores de campanha.
Ou seja, estamos num estágio em que a política se transforma num espetáculo cada vez mais vagabundo e gira em torno de uma nação de imbecis - é de um estado demencial que se trata.
Mas chega um momento em que as coisas se tornam sérias o bastante para até a pateta presidencial se dar conta de que precisa fazer alguma coisa. Ela decide enviar uma missão destinada a destruir um meteorito. Claro, isso não pode ficar barato - é preciso montar um espetáculo cheio de bandeiras e, sobretudo, promover um novo herói nacional. Que, no caso, é um velho professor de ginástica fanfarrão, com cara de general latino-americano.
Quem achar que toda essa palhaçada parece em vários pontos com o Brasil ,não estará longe da verdade. Quem entender que o burlesco do filme passa do ponto em vários momentos, também.
Em filmes passados, McKay tentou explicar da maneira mais didática possível o que foi o grande "crash" de 2008, depois buscou carimbar um vice-presidente dos Estados Unidos como ser altamente perigoso.
Desta vez parece ter desistido de tentar falar a sério. Sua nova empreitada em vários aspectos lembra o Stanley Kubrick de "Dr. Fantástico".
Embora menos vigoroso que o filme de Kubrick, perto da média do cinema americano contemporâneo é um luxo. E, excessos à parte, um filme que se vê com prazer.
Serviço
"Não Olhe para Cima" está em cartaz na Netflix, com classificação indicativa para 16 anos. No elenco, destaque para Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Meryl Streep. O filme foi avaliado como "muito bom" pela crítica.