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42 anos: o 'Brabo' segue em alto nível

Bruno Freitas
| Tempo de leitura: 4 min

Aos 42 anos, recém-completados, Alex Ribeiro Garcia, o 'Brabo', desafia a lógica do esporte de alto nível. Com essa idade, o ala/armador do Bauru Basket já poderia estar se encaminhando para a aposentadoria. Mas o jogador não só ainda esbanja ótima forma física, como também revela ambição de conquistar mais títulos e recordes. Ou seja, não há previsão alguma de pendurar os tênis.

O atleta, que segue brilhando como um dos maiores jogadores brasileiros de basquete de todos os tempos, também é um cara família, bastante dedicado à esposa e às duas filhas. "Um fenômeno, um cara muito forte, acima da média", comenta o gestor do Dragão e ex-atleta Vanderlei Mazzuchini, sobre o jogador que fez aniversário no último dia 4.

Manter a longevidade com o alto nível técnico e físico dentro de quadra é um dos feitos de um dos jogadores mais diferenciados que o basquetebol brasileiro já teve: Alex Garcia jogou duas temporadas no maior palco deste esporte no mundo, a NBA, e defendeu a seleção brasileira por 21 anos. Mas antes de pisar dentro de uma quadra pela primeira vez, até os 11 anos, ajudava a mãe na roça, colhendo café, laranja e descascando milho, em Orlândia, região de Ribeirão Preto.

Com 13 anos, começou a jogar no time da cidade. Depois, defendeu as equipes de Santa Rita do Passa Quatro, Assis, Rio Preto e COC Ribeirão. Na temporada 2003-04, realizou o sonho de jogar na NBA, pelo San Antonio Spurs, ao lado das estrelas Tim Duncan, Manu Ginóbili e Tony Parker. Na sequência, defendeu o New Orleans Hornets, em 2004-05. Período em que nasceu a primeira filha, Ana Lívia, com quem ficou por apenas dois dias. Depois teve de voltar aos EUA. E a saudade só foi superada quatro meses depois. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Jornal da Cidade - Como foi jogar na maior liga do mundo e quais as lembranças fora do Brasil?

Alex Garcia - Joguei a liga que todo atleta quer jogar. A NBA é algo totalmente diferente. Sofri com lesões no joelho e, por isso, não pude atuar mais tempo, mas considero ter chegado lá como um dos principais títulos da minha carreira. Na sequência, defendi o Brasília e depois fui para Israel, atuar pelo Maccabi Tel Aviv, entre 2008 e 2009. Por lá disputei o título europeu e fui vice-campeão. Fomos a segunda melhor equipe da Europa. Foi um período difícil, porque fui para lá com a minha esposa Camila e ela não se adaptou com o dia a dia, teve saudade do Brasil. Precisou voltar e eu fiquei lá sozinho. Mas é da nossa profissão, faz parte. Depois, joguei novamente por Brasília, pelo Bauru, Minas e agora estou novamente no Bauru Basket (desde julho de 2020), equipe que não pretendo sair tão cedo e me sinto em casa.

Jornal da Cidade - A que você atribui a longevidade em alto nível?

Alex Garcia - Sobre jogar com a minha idade e manter o máximo do que eu posso render, destaco que a genética é privilegiada, sim, mas só isso não é suficiente. Eu faço musculação há muitos anos e, além da força, previne as lesões. Trabalho muito duro, com intensidade, me alimento bem. Precisa também ter o tempo de descanso, que é fundamental. Nunca fui de fazer uso de suplementação, a força vem mesmo da alimentação feita pela esposa.

Jornal da Cidade - Como é a relação com a família, mesmo com a rotina intensa de jogos?

Alex Garcia - Sou muito caseiro, gosto de ficar juntinho com a família em casa, ou então fazendo viagens próximas, passeios no shopping ou então pegamos um cinema, sempre com as nossas filhas do lado: a Ana Lívia de 17 anos e Luana, de 12. E quanto a minha esposa, a Camila, só tenho carinho, alegria e gratidão. Nos conhecemos quando eu tinha 17 anos e estamos juntos há 25 anos, 18 deles casados. A família dela me acolheu muito bem. A Camila é a que mais me cobra para eu sempre melhorar. Foi superparceira e companheira e eu sou muito grato por tê-la conhecido.

Jornal da Cidade - Como foi se despedir da seleção?

Alex Garcia - Após 21 anos, anunciei o fim do meu ciclo para poder ficar mais tempo com a família. Foram 21 anos sem férias, longe da família. Tinha época que quando eu vinha para casa, as meninas tinham que faltar da escola para ficarmos juntos. Participei de dois Jogos Olímpicos, Londres-2012 e Rio-2016, além de cinco Mundiais. Estou entre os que mais disputaram mundiais pelo Brasil. Mas após nossa eliminação no pré-olímpico (Tóquio-2020), defini que meu dever foi cumprido pela seleção.

Jornal da Cidade - Quais foram as suas principais conquistas?

Alex Garcia - Por clubes, fui cinco vezes campeão em estaduais, sendo um título por Bauru, hexacampeão brasileiro, bicampeão sul-americano, bicampeão da Liga das Américas e um vice Europeu. Individualmente, fui duas vezes MVP (jogador mais valioso) da Liga das Américas, MVP de Sul-Americano, dois MVP de Brasileiro, nove vezes eleito melhor defensor do NBB e em sete temporadas fui o melhor ala do Novo Basquete Brasil.

Jornal da Cidade - Qual será futuro pós-quadras?

Alex Garcia - Não tenho previsão de parar tão cedo. Já pensei no fato de ser treinador, mas está cedo e não quero focar nisso no momento. Estou mesmo focado, agora, em finalizar a faculdade de educação física. Quero curtir mais competições ainda.

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