Wagner Teodoro

Pouco sei, mas muito desconfio

03/04/2022 | Tempo de leitura: 3 min

"Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa". Nas palavras de João Guimarães Rosa, maior escritor brasileiro e entre os mestres da literatura universal, resumo o que se pode predizer após o sorteio dos grupos da Copa do Mundo do Catar. Favoritismo há. Mas toda avaliação e palpite corre o risco de naufragar pelo simples fato de que o tal do velho ludopédio tem vocação para contrariar o óbvio.

Sendo assim, para o bem do próprio futebol, sempre há surpresas, "time sensação", zebras em Copas. Algumas das páginas mais poéticas e épicas dos Mundiais têm esse enredo. Além disso, faltam mais de sete meses para o pontapé inicial e até lá muita mudança pode ocorrer. Como Tite falou, o importante é chegar bem. Sim, o batido "futebol é momento", em competição de tiro curto vale mesmo. São sete jogos para a glória.

O Brasil não pegou o pior cenário possível na fase de grupos. Fugimos de precoces confrontos temerários com Alemanha e Holanda, "presentes" reservados para Espanha e Catar, respectivamente. Mas não vamos encarar molezinha, não. Temos a Suíça, que aprontou com a campeã mundial, França, na Eurocopa e jogou a Itália para a repescagem nas Eliminatórias - os italianos não qualificaram para a Copa. É um time muito bem organizado. Chato mesmo. E o duelo é reedição de jogo da Copa da Rússia, que terminou empatado.

Os suíços são a partida dois. Antes, o Brasil estreia contra a Sérvia (deixou Portugal para a repescagem nas Eliminatórias), mais uma seleção que enfrentamos em 2018. E ganhamos. E fecha a fase contra Camarões. É um grupo com boa possibilidade do Brasil ratificar o favoritismo e sair como líder. Mas são dois europeus e, principalmente, a Suíça pode nos tirar pontos. Mas poderia ser pior. Ficou de bom tamanho.

Passando em primeiro lugar, a Seleção deve se livrar de confrontos com França, Inglaterra, Alemanha, Portugal e Bélgica, que provavelmente ficarão na chave oposta do mata-mata, e pode ter um caminho ouvindo adversários falando espanhol até a penúltima partida. Uruguai nas oitavas; Espanha nas quartas; Argentina nas semifinais.

Isso tudo, claro, se os cabeças de chave na fase de grupos avançarem como líderes, exceção evidente do Catar. Porém, principalmente a Alemanha pode desbancar a Espanha, mas Dinamarca e Uruguai também têm chances diante França e Portugal. Nas minhas "desconfianças", as quartas mais previsíveis teriam: Brasil x Espanha, Argentina x Holanda, Inglaterra x França e Alemanha ou Bélgica x Portugal. Mas desconfio também que muito provavelmente alguém, digamos inesperado, vai se imiscuir nesta turma dos oito melhores. Exemplo recente: Croácia vice, em 2018.

E os "Hermanos"?

A Argentina tem um grupo tranquilo na primeira fase, com México, Polônia e Arábia Saudita. A seleção europeia deve ser o maior obstáculo pela liderança e vai ser bem legal assistir ao duelo Lewandowski x Messi. Mas, depois, se os favoritos ratificarem esta condição, é só pedreira para nossos vizinhos.

Se os cabeças de chave avançarem em primeiro, o caminho dos "Hermanos" tem a perigosíssima Dinamarca nas oitavas e pode apontar confronto com a Holanda nas quartas e Brasil nas semifinais. Esperemos que a Copa para eles não passe da Amarelinha (e que o Brasil realmente chegue até esta fase). A final seria contra algum papão do outro lado da chave: França, Inglaterra... Alemanha talvez. Mas, como eu já disse e todos sabemos, futebol é mestre em quebrar prognósticos. Por enquanto, ficamos na expectativa e valem as conjecturas.

Mundial diferente

O clima do Catar exigiu que a Copa do Mundo de 2022 ocorresse fora da tradicional época do meio de ano para fugir das insalubres temperaturas no Oriente Médio. Será um Mundial diferente não só pelos meses, entre novembro e dezembro, mas também porque o torneio de seleções vai ocorrer em pleno período do calendário europeu, que concentra a maioria dos craques em seus clubes. Veremos os astros no auge do preparo físico e não em fim de temporada. Presságio de uma Copa disputada com intensidade e de altíssimo nível técnico.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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