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Frota de carro e moto de Bauru cai e volta ao nível registrado em 2018

Tisa Moraes
| Tempo de leitura: 3 min

O número de carros e motos em circulação em Bauru caiu pelo segundo ano consecutivo e voltou aos patamares registrados em 2018. O fenômeno, bastante incomum, é resultado de diversos fatores, entre eles a crise econômica, a alta dos preços dos veículos, elevação da taxa de juros e mudanças comportamentais, conforme avaliam especialistas.

Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran-SP), a frota de automóveis e motocicletas em Bauru, que são os dois principais meios de locomoção individual, perdeu quase 8 mil unidades nos dois últimos anos. O montante corresponde à diferença entre o número de veículos que foram proibidos de circular - seja por acidentes, por degradação ou por excesso de débitos tributários - e o quantitativo de novas unidades emplacadas.

Em fevereiro de 2020, eram 172.537 carros e 52.487 motos. Já no mesmo mês de 2022, o volume caiu, respectivamente, para 167.064 e 50.029 exemplares. O número é próximo do que a cidade registrava no início de 2018, quando 167.124 automóveis e 50.196 motocicletas estavam em circulação.

Especialista em segurança viária e doutor em engenharia de trânsito e transporte, Archimedes Azevedo Raia Jr. explica que, desde o ano passado, devido à pandemia de Covid-19, a indústria automotiva enfrenta dificuldades para obtenção de peças para a produção de veículos, entre elas chips semicondutores. A situação - que deixou os estoques baixos e provocou alta expressiva dos preços dos carros zero quilômetro e, por consequência, dos seminovos, das peças de reposição e do IPVA - ainda não foi normalizada.

"Além disso, há uma perda crescente de interesse das montadoras em produzir veículos tradicionais. A preferência tem sido pelo desenvolvimento de modelos elétricos, que ainda têm preços pouco acessíveis à maioria das pessoas", analisa.

RENDA COMPROMETIDA

Neste contexto, a aquisição de automóveis foi se tornando cada vez mais proibitiva para a maior parcela da população, já penalizada não apenas com a escalada de preços dos combustíveis, mas também com alta generalizada de preços, incluindo alimentos e energia elétrica. "A renda das pessoas não acompanhou estas altas e as famílias perderam poder de compra", pontua o economista Diego Richene.

Ele acrescenta que a alta da taxa básica de juros, que saltou de 2,75% para 11,75% nos últimos 12 meses (acumulados até março), também contribuiu para diminuir o acesso dos consumidores ao crédito. "Antes da pandemia, na média, o juro de um financiamento de veículo era de 1,19% ao mês. Agora, já vemos taxas se aproximando de 2,79%. Elas praticamente dobraram e precisamos considerar que mais de 80% das vendas ocorrem com pagamento parcelado", destaca.

Archimedes Raia Jr. considera, ainda, que as novas gerações já têm demonstrado menor interesse em dirigir quando completam 18 anos. Além disso, com a popularização do transporte por aplicativos, consolidou-se um novo meio de locomoção para um grande número de pessoas, ainda que o uso ocorra de forma esporádica.

"Neste momento de crise e inflação, os custos para obtenção de CNH, para comprar carro novo ou usado e para manutenção se tornaram altíssimos. Então, quem não tem condições de arcar com estes custos, terá de usar o transporte coletivo, que precisa melhorar; a bicicleta, ainda que a infraestrutura da cidade para o ciclista seja precária; ou vai andar a pé", completa.

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