Conversando com o Bispo

Tu és o Cristo de Deus - Ano C

19/06/2022 | Tempo de leitura: 4 min

No trecho evangélico da Missa de hoje - Lc 9,18-24 - Lucas conta que Jesus estava rezando num lugar deserto e os discípulos estavam com ele. Movido pelo Espírito Santo Jesus aproveitou o momento para aprofundar com os discípulos um aspecto central da identidade e missão do Messias, "O Cristo de Deus", e, por conseguinte, dos cristãos. Jesus pôs a questão aos discípulos: "Quem diz o povo que Eu sou?" A resposta foi, "uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou". Mas Jesus perguntou-lhes: "E para vós quem Eu sou?" Pedro, sempre ele, respondeu de imediato: "O Cristo de Deus". Jesus, primeiro, pediu-lhes para que por ora guardassem essa revelação em segredo, porque certamente a recepção da notícia seria equivocada, isto é, ideologizada como vinha sendo interpretada pela tradição segundo a qual o Messias seria como um rei Davi glorioso por seu grande poder econômico e militar que tomaria conta do mundo, pelo que Ele seria muito amado tanto pelo povo quanto pelos poderosos da nação, anciãos, sacerdotes e doutores da lei. Tal que Jesus nem lhes perguntou sobre o que significava ser "o Messias de Deus", já que essa resposta estaria na ponta da língua: um rei poderoso neste e deste mundo. Assim sendo, Jesus pôs-se logo a esclarecer a eles, para sua perplexidade, afirmando que "O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia". Como o discípulo nunca será maior do que o mestre, Jesus não deixou para depois a fim de revelar-lhes o que os deixou ainda mais surpresos que "Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará".

Embora Jesus tenha deixado evidente quanto quem é "o Cristo de Deus" e quem serão os cristãos, foi somente depois da vinda do Espírito Santo que os discípulos compreenderam o verdadeiro sentido dessa revelação. Os que ainda hoje pregam ou seguem a teologia da prosperidade não entenderam nem quem é o Cristo nem quem são os cristãos, nem o que significa Reino de Deus nem reino deste mundo. Semeiam na confusão. Que o Senhor os perdoe porque não sabem o que fazem! Se o soubessem seriam mal-intencionados. Da vida de Cristo e do cristão a cruz jamais poderá ser tirada.

As perguntas do Evangelho de hoje são dirigidas também a nós: "Quem é Jesus e quem somos nós? Conhecer Jesus é conhecer quem é a humanidade. Há, hoje, uma corrente teológica chamada de teologia da prosperidade, muito sedutora, a qual vem influenciando sobretudo as conhecidas Igrejas neopentecostais. Como o diabo corre da cruz, os líderes dessas Igrejas fogem dela, não gostam de falar da paixão e crucificação de Jesus, nem sabem o que fazer com a cruz dos cristãos. Na hermenêutica desses pastores, só há lugar para um crucificado, Jesus. Quanto, porém, à participação dos cristãos no sacrifício de Cristo, esses pregadores não a negam enquanto os cristãos são beneficiários passivos dos méritos de Cristo, mas enquanto tenham que ativamente renunciar a si mesmos, tomar sua cruz cada dia e seguir a Jesus, ah! Isso não, nem pensar. Não compreendem o que diz São Paulo: "Agora regozijo-me nos meus sofrimentos por vós, e completo o que falta às tribulação de Cristo em minha carne pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Col 1,24). Para nossa salvação bastou o sacrifício de Cristo, mas, sendo seus discípulos e imitadores, somos chamados a carregar as tribulações de Cristo na nossa carne em favor do anúncio do Evangelho e por causa do amor ao povo de Deus. Por isso, conforme o Evangelho da Missa, Jesus chama seus discípulos a "tomar sua cruz e segui-lo", associando ao seu sacrifício redentor aqueles mesmos que são seus primeiros beneficiários. Nosso Catecismo cita Santa Rosa de Lima que assim se expressou: "Fora da cruz não existe outra escada por onde subir ao céu" (n: 618). Nesse tipo de teologia neopentecostal sem a cruz do cristão predomina a fé interpretada de modo privado, intimista, espiritualizado, fundamentalista, sem preocupação com a dimensão social do Evangelho, a causa dos pobres e sofredores e a luta pelas transformações sociais.

Aqui está a mentira da supra teologia mencionada, a de prometer ao discípulo a felicidade plena sem que tenha de tomar sua cruz cada dia e de seguir a Jesus.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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