Reflexão e Fé

Indústria do medo

Hugo Evandro Silveira Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril. E-mail: hugoevandro15@gmail.com

18/09/2022 | Tempo de leitura: 4 min

O medo tem desempenhado um papel fundamental na consciência do nosso século. Cada vez mais, parecemos envolver-se com várias questões através da narrativa do medo. O mundo nos últimos anos sofreu uma mudança tão grande que não somos mais capazes de garantir minimamente paz e sobriedade frente a indústria do medo que produz seu produto em alta escala. Podemos ver essa tendência através de medos específicos surgidos e cultivados em bordões como 'política do medo', 'medo do crime', 'medo do futuro', 'medo da polícia', 'medo do presidente', 'medo da guerra', 'medo da rua', 'medo de gente' e etecetera. Somos uma geração formada sob a narrativa do medo. O medo nessa perspectiva atual não está simplesmente associado às ameaças catastróficas, ataques terroristas, perigos reais, pandemias e doenças, mas também aos 'medos criados', que impedem as pessoas de seguirem à frente na vida. Nos últimos anos questões sobre o medo e a ansiedade têm se multiplicado numa velocidade inimaginável.

MEDO PRODUZIDO

O medo não tem acontecido simplesmente, mas construído e manipulado por quem busca se beneficiar desse produto. Desnecessário dizer que o medo nem sempre tem qualidades negativas por ser um dos mecanismos mais importantes de proteção e defesa. O medo é essencial para a proteção do indivíduo que vive numa sociedade relativizada e insegura. Não obstante, o medo histórico da fome é muito diferente, por exemplo, do atual e poderoso medo de ficar 'gordo' produzido pelos investidores do culto à beleza. O significado que as sociedades uma vez atribuíram ao medo de Deus ou ao medo do inferno não é bem igual ao medo de hoje do 'buraco na camada de ozônio'. As pessoas tem aprendido fobias, temores, hábitos de ansiedades, sensações de ameaças que dificilmente inventaria sozinha. Atualmente o medo do crime, se tornou maior do que o próprio crime - o medo do crime é agora reconhecido como um problema mais generalizado do que o perigo do próprio crime. Com isso o sistema tem desenvolvido mecanismos lucrativos que visam reduzir os níveis do medo, mais do que reduzir o próprio crime. Medos e riscos de baixo grau, abstratos, florescem e capturam a imaginação e os sentimentos das pessoas. A sociedade está muito mais amedrontada no século 21. A magnitude e a natureza do medo atual é bem diferente do passado; o medo em nossos dias se encontra descontroladamente em cada esquina. Não dá nem para mencionar os intermináveis relatos de fobias e perturbações emitidas pela massa mundial. É impossível mensurar e cada vez mais crescente. Talvez o medo seja o termo que defina nossa contemporaneidade. O medo, e a ansiedade gerada pelo medo se tornaram uma nova epidemia devastadora. Nossas crianças já crescem com medo de tudo e todos.

PAZ NO MEDO

É possível encontrar um GPS que mostre o caminho que nos leve para longe das edificações do medo. Apesar de subjetivo para uma imensa maioria pós moderna, Deus, o soberano sabedor da fragilidade humana, proveu nas sagradas Escrituras orientações milagrosas contra esse medo oriundo das diversas circunstâncias instáveis da nossa existência: "Mas eu, quando estiver com medo, confiarei em Ti. Em Deus, cuja palavra eu louvo, em Deus eu confio, e não terei medo de coisa alguma. Que poderá fazer-me o simples mortal?" (Salmo 56.3,4). "Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não terei medo algum, porque Tú estás comigo" (Sl 23.4). "Deixo-lhes a paz; a minha paz lhes dou. Não a dou como o mundo a dá. Não se perturbem os seus corações, nem tenham medo." (João 14.27). Esses versículos entre centenas de outros são significativos, não como um "mantra", mas na vida daquele que mantém a sua fé em Deus por meio de Cristo Jesus. O político e presidente dos EUA, Franklin D Roosevelt, em seu discurso de posse em 1933, afirmou que "a única coisa que se deve temer é o próprio medo". Ele estava tentando assegurar ao seu público que é possível e necessário minimizar o impacto do medo. Hoje, os políticos são muito mais propensos a aconselhar o público a temer tudo, incluindo o próprio medo. Deus sabia que o medo nos atormentaria por todas as partes; para ficarmos menos assustados com os excessos, ele nos deixou orientações divinas, a fim de termos cuidados obviamente, mas sobretudo, acalmar o nosso coração no meio dessa imensa produção da indústria do medo que prospera e se reinventa a passos largos.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Receba as notícias mais relevantes de Bauru e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.