CULTURA & ARTE

Dia do Ator celebra desafios e magia do teatro em Araçatuba

Por Wesley Pedrosa | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Flávia Baxhix
Espetáculo Sapo: A História não é sobre ele
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As artes cênicas se prepara para celebrar, no próximo dia 19 de agosto, o Dia do Ator de Teatro, uma data que reverencia a dedicação, a técnica e a paixão de profissionais que transformam vidas por meio da arte cênica. Em Araçatuba, o teatro se mostra como um instrumento vital de identidade e expressão.

A Secretaria Municipal de Cultura da cidade mantém atualmente seis espaços destinados às artes cênicas. Entre eles, estão o Teatro Municipal Castro Alves, junto à Casa de Cultura Adelino Brandão, o Cineteatro Sílvio Regina Teodoro, localizado no CEU das Artes, o Teatro Aberto Tom Jobim, na Praça João Pessoa, e o Saguão das Artes Mildred Lourdes Pacitti, no Complexo Cultural Bandeiras.

Outros dois espaços, o Teatro Paulo Alcides Jorge e o Anfiteatro José Calixto, estão em fase de reparos ou avaliação para uso.

Segundo a Secretaria de Cultura, há um esforço contínuo para descentralizar as apresentações, levando o teatro a praças e ruas, com apoio de parceiros como Sesc e Sesi, ampliando o alcance da arte para diferentes bairros da cidade.

Para a secretária de Cultura, Vanessa Manarelli, a cultura é uma ferramenta de transformação social. “A gente entende a cultura aqui como uma real ferramenta de transformação social. Ela deve, pode e estará em todos os cantos da cidade. Queremos ampliar a possibilidade de que mais pessoas sejam tocadas pela cultura”, afirma.

O Festara, festival que em 2025 chega à 21ª edição, é o principal evento de teatro da cidade, reunindo companhias de todo o País, oficinas e ações culturais. A cidade também apoia outras iniciativas, como o AraçAlegria, dedicado à comédia, e o eBUN, Mostra de Teatro Negro, fortalecendo a diversidade da cena local.

A atriz Tainara Borborema ressalta que o maior desafio do teatro na região não está apenas na falta de recursos. “Podemos ter a melhor estrutura, som e luz de ponta, mas se não houver público, não há teatro. O maior desafio hoje é a formação de público”, explica, destacando a importância de ações educativas e de divulgação.

Ela lembra que percorrer cidades do interior com espetáculos contemplados pelo ProAC revelou a dificuldade de atrair plateias. “É desanimador ver teatros enormes, em pequenas cidades, praticamente vazios. Mas teatro é lidar com desafios e buscar soluções”, completa.

Para Tainara, a imprensa ajuda, mas iniciativas como panfletagem, boca a boca e ações em escolas ainda são muito eficazes para engajar a comunidade. Ela defende que a formação de público deve começar na educação básica, estimulando crianças a assistir e praticar o teatro. Para ela, a evolução da cidade é perceptível: mais grupos estão ativos, a movimentação cultural aumenta, e os artistas reconhecem seu espaço e responsabilidade. Ela pondera, porém, que ainda há concentração de recursos em poucos grupos. Ela reforça a importância de que artistas desenvolvam habilidades além da atuação: produzir, compreender editais e políticas culturais, para garantir distribuição justa de recursos e sustentabilidade da arte.

O ator Evandro Cláudio também aponta os desafios da cena regional. “A falta de equipamentos e de investimentos limita a qualidade das produções. As fake news e o crescimento do entretenimento virtual reduzem o público a nichos restritos. Ainda assim, o teatro resiste graças à luta e ao amor pelo ofício”, afirma.

Apesar das dificuldades, Evandro enxerga evolução na região. Incentivos de políticas públicas, editais estaduais e municipais, além da Política Nacional Aldir Blanc, contribuem para o surgimento de novas companhias e para o fortalecimento de grupos existentes.

Evandro destaca a diversidade de linguagens teatrais, como palhaçaria, teatro popular, teatro de rua e teatro documental, demonstra a riqueza cultural da região e a força criativa de seus artistas.

Estar em cena, segundo Tainara, é uma experiência única. “É um misto de medo, prazer e contemplação. Suspender-se em outro estado, quase mágico, é loucura, magia e trabalho ao mesmo tempo”, relata, mostrando a intensidade do ato de atuar.

Evandro complementa, definindo o palco como um espaço de doação. “O ator se entrega à obra e à plateia, vestindo técnica e saberes para dar vida a outras narrativas. É estar diante do público, sendo observado e atravessado pelo que ele sente.”

Araçatuba mantém o curso técnico de teatro pelo Senac, enquanto Birigui oferece cursos de iniciação pelo Sesi. Oficinas e iniciativas federais, como a plataforma online Escult, ampliam a formação de atores e profissionais do setor, fortalecendo a cena regional.

Segundo a secretária Vanessa, iniciativas de formação e capacitação são fundamentais. A implantação da Escola Municipal de Artes, com turmas de teatro, artes visuais e artesanato, amplia o acesso de jovens de 7 a 21 anos à prática artística, fortalecendo o ciclo cultural local.

Evandro aponta que a valorização profissional ainda é um desafio. “Muitos grupos remuneram apenas produtores, deixando a equipe artística sem pagamento. É urgente investir em equidade e fortalecer a classe teatral de forma coletiva”, destaca.

A formação de público e o acesso à arte nas periferias também são pontos cruciais. Evandro defende que cada canto da cidade tenha oportunidades reais de vivenciar o teatro, aumentando a percepção do seu valor social e cultural.

Tainara deixa um recado inspirador para novos artistas: “Comecem sem recursos, com medo ou dúvidas. A arte exige estudo, técnica e dedicação. Sair da inércia já é um passo importante. O teatro é para quem se entrega de verdade.”

Evandro completa com ênfase na persistência. “Mais do que talento, é preciso resistência. O teatro é coletivo. Se sua arte tocar ao menos uma pessoa e gerar transformação, sua missão já está cumprida. Mas nunca se contente com pouco - busque sempre ir além.”

O cenário teatral de Araçatuba e região, apesar de limitações, cresce em diversidade, qualidade e engajamento. A junção de políticas públicas, iniciativa artística e paixão pelo palco garante que a cidade continue sendo um polo de produção cultural no interior paulista.

No Dia do Ator de Teatro, a cidade celebra não apenas os talentos em cena, mas todo o esforço coletivo que mantém viva a chama da cultura, transformando espaços, vidas e perspectivas por meio da arte cênica.

Porque a criança cozinha na polenta 
Direção Ana Carolina Santana 
Foto: Ana Carolina Santana

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