DIA DOS PAIS

Pais que rompem padrões e reinventam a paternidade real

Por Wesley Pedrosa | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
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Entre desafios, rotinas intensas e muito afeto, Bruno e Thallis mostram que ser pai vai além da presença física: é dedicação, escuta e amor diário
Entre desafios, rotinas intensas e muito afeto, Bruno e Thallis mostram que ser pai vai além da presença física: é dedicação, escuta e amor diário

A figura do pai tradicional – distante, provedor, emocionalmente ausente – tem perdido espaço para novas formas de paternidade. Hoje, ser pai exige mais do que garantir sustento: pede envolvimento, afeto, escuta e, sobretudo, presença. O Dia dos Pais se torna, assim, uma oportunidade para refletir sobre essa virada de chave nas relações familiares.

Dados do IBGE recente mostram que, embora o número de pais solos ainda seja pequeno, representando 3,6% das famílias, essa configuração tem crescido, revelando mudanças importantes na dinâmica familiar brasileira.

Desafios de 'Pai solo'

Bruno Reis de Andrade é um exemplo dessa nova geração de pais. Morador de Pompeia, ele não apenas cuida sozinho do filho Felipe, como também conduz com afeto e responsabilidade uma rotina intensa marcada por trabalho, terapias e muito amor.

“Ser pai não é nada fácil, tem sido uma montanha-russa de emoções”, afirma Bruno. O filho, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), demanda ainda mais atenção, sensibilidade e constância. Mas Bruno não recua. Ele organiza a vida em torno do bem-estar da criança e encara os desafios com serenidade e compromisso.

A jornada começa cedo. Bruno entra no trabalho às 6h da manhã. Para dar conta da rotina escolar do filho, conta com o apoio dos pais. “Uma coisa bacana é que meu filho me espera junto com meu pai todo dia no portão”, compartilha. As tardes são preenchidas por sessões de terapia e momentos juntos.

A cada detalhe, Bruno revela um cuidado especial: “Sempre gosto de manter uma rotina de horário, porque qualquer mudança bagunça tudo, atrapalha até o sono dele”. À noite, após o banho e o jantar, ele acompanha o filho até dormir, e só então cuida de si. “Depois que ele dorme, eu tiro uma hora para fazer exercícios físicos”, conta.

A paternidade, para Bruno, é um processo contínuo de aprendizado. “Me cobro bastante quanto à criação dele, me questiono todos os dias se estou fazendo a coisa certa.” Mas são os pequenos reconhecimentos que o mantêm firme. “Na última reunião da escola, ele foi muito elogiado. Ouvir isso é muito gratificante.”

Bruno encara de frente os desafios da criação de uma criança na era digital. “Acho que os maiores desafios hoje em dia são conciliar a rotina de trabalho com a presença como pai. E também lidar com a geração das telas, que não gosta de ser frustrada.”

Mas é exatamente aí que mora o aprendizado. “Felipe tem me ensinado paciência. Muitas vezes as coisas não saem como o planejado e tenho que ter jogo de cintura. Prioridades mudam.”

Mais do que uma responsabilidade, a paternidade é, para ele, um compromisso emocional. “Hoje em dia não dá mais só para ajudar. O pai precisa estar presente, real, emocional e ativamente na vida do filho.”

Ser um pai atípico com a guarda do filho não é simples. Bruno se orgulha da jornada, mas também denuncia: “O preconceito existe e machuca. A falta de informação sobre crianças com transtornos é muito grande.”

Apesar disso, ele carrega com ele o exemplo paterno. “Sempre tive um pai presente, e é o exemplo dele que eu sigo. É muito especial estar vivenciando isso, ouvir um ‘eu te amo’. Agradeço todos os dias por ter o Felipe ao meu lado.”

Do Rio a Penápolis: a jornada de Thallis para estar presente na vida do filho

Do Rio de Janeiro vem a história de Thallis Luiz, pai de Arthur. Atleta de vôlei de areia, ele mantém uma rotina intensa entre as competições e a vida em Penápolis, onde vive o filho.

“Quando estou em Penápolis, revezo com a mãe dele os dias da semana e alguns finais de semana. Como sou atleta, estou sempre priorizando atividades físicas nas áreas livres da cidade. A gente pedala bastante, anda a cidade toda.”

Para Thallis, o maior presente é ver o filho interagir e se divertir. “Não tem sensação melhor do que ver seu filho feliz e saudável correndo com outras crianças.”

A vida em trânsito impõe desafios únicos. Durante um período, Thallis viajava do Rio a Penápolis apenas para passar um dia com o filho. “Já teve vezes em que cheguei numa sexta e voltei no sábado à noite. Era exaustivo.”

Hoje, com uma casa comprada em Penápolis, ele tem conseguido ficar mais tempo com Arthur. “Passo uma média de três a quatro meses sem voltar pro Rio. Está muito mais controlado agora.”

A conexão entre pai e filho também é mantida à distância. Desde que Arthur tinha um ano, eles fazem videochamadas. “É a forma de se manter visualmente próximo. Hoje ele nem aguenta mais ver minha cara na tela”, brinca.

Mas a distância não impede o envolvimento emocional. Pelo contrário. Thallis se compromete com a paternidade justamente por ter crescido sem um pai presente. “Do meu pai só tive o nome. Então me tornei pai e vi que era possível ser presente mesmo longe.”

Ser o que não teve é o combustível. “O que posso fazer é não ser como ele. O que não é muito difícil. É ser o que não tive para que o meu filho não se torne o que eu sou.”

Para ele, o Dia dos Pais é uma data carregada de significado. “É uma lembrança de não ser o pai que eu não tive. E isso é muito importante mesmo.”

Bruno e Thallis representam pais que desafiam o modelo tradicional e provam que o amor, o cuidado e o envolvimento não têm fórmula única. São pais presentes de diferentes formas, mas com um objetivo em comum: construir relações verdadeiras e afetuosas com seus filhos.

Na nova configuração familiar, a paternidade não é mais coadjuvante. É presença. É responsabilidade. É afeto ativo. E, acima de tudo, é escolha diária.

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