É preciso um profundo estudo para identificar o que produz no empreendedor brasileiro tanta resiliência em um ambiente que é desfavorável em todos os aspectos e pontos de vista. A carga tributária em 2024 representou 32% do PIB; no ano passado, apenas 10% das ações trabalhistas foram resolvidas a favor do empregador; tivemos disponibilidades de empregos sem candidatos capacitados para ocupar essas vagas; 55% da população ativa brasileira recebe o Bolsa Família, aceitando o emprego desde que não seja registrado.
Parece muito, mas tem mais. A criminalidade está com índices crescentes, penetrando inclusive em atividades reguladas, o que acaba por provocar concorrência desleal; O judiciário, com o intuito de reduzir a população carcerária e despovoar os presídios busca caminhos para diminuir penas e promover a libertação de prisioneiros que cometeram crimes de menor delito; a inflação flerta com o teto da meta estabelecido; e temos uma das taxas de juros mais altas do mundo (15%).
Esses dados contornam o cenário que está estabelecido. Apesar disto, um grupo de investidores resolveu implantar no interior do Estado de São Paulo, uma pequena refinaria de petróleo.
Uma solução de logística
Tive a honra de participar desse projeto, iniciado no primeiro semestre de 2019, que hoje se encontra em pleno funcionamento, gerando cerca de 150 empregos, e fabricando derivados de petróleo bem mais perto do consumidor.
Não há estatísticas oficiais sobre o consumo de combustíveis no interior dos Estados brasileiros. Elas se referem ao consumo do Estado como um todo. Estudos não oficiais demonstram que a região oeste dos Estados de São Paulo e Paraná, mais o Mato Grosso do Sul e Sul de Goiás, consomem 10% do combustível consumido no Brasil.
Essa produção ocorre, quase na sua totalidade, no litoral ou mesmo nas imediações do litoral brasileiro. Isso cria um acréscimo de custos para as empresas do agronegócio, localizadas ao Oeste do nosso país, e longe das áreas produtivas de derivados de petróleo.
Acrescente-se a isso o fato de que nosso país ocupa o oitavo lugar entre os maiores produtores de combustíveis do mundo, passando para o quinto, se acrescentarmos o biocombustível. E, mesmo assim, importa derivados, especialmente o diesel, pela sua baixa capacidade de refino.
Um modelo viável - apesar de tudo
Este cenário, aliado à coragem dos empreendedores, foi o que definiu a construção da Refinaria em julho de 2019, projetando uma produção diária de 12.500 barris, que são transformados em combustíveis no mesmo espaço ocupado pelos produtores, principalmente os agricultores do Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás e Triângulo Mineiro.
Esses ingredientes, transformados em números, apresentavam um modelo econômico-financeiro que induzem ao sucesso que hoje é a SSOIL ENERGY S/A.
O que o modelo não indicou foram os problemas “extracampo”, que o time de investidores enfrentou e enfrenta até hoje.
Uma pizza tem oito pedaços. Se forem oito os comensais, teremos um pedaço de pizza para cada um. Se aparece um ousado pegando outro pedaço, alguém fica sem, ou todos vão perder um pouco.
A metáfora da pizza serve para ilustrar o comportamento da concorrência nesse mercado, que definitivamente não é para amadores.
Começamos pela inacreditável constatação de que uma empresa de refino não consegue comprar petróleo brasileiro da empresa que já foi pública e hoje é de economia mista, mas que segue sendo a maior exploradora das nossas bacias de petróleo.
Passa pelas dificuldades impostas às empresas do ramo por uma agência reguladora, séria, que leva a regulação ao extremo. Conseguimos vencer as dificuldades impostas, mas ficamos mais de um ano com todo o quadro contratado e treinado, à espera da Inspeção.
Além dos entraves públicos, tivemos uma campanha maciça oriunda do mercado, às vezes travestidas de Associações, que forjaram mais de oitenta denúncias aos órgão reguladores, todas elas falsas, como ficou provado nos processos abertos pela regulação.
Quanto trabalho, quanto esforço expendido, simplesmente para provar o que não existia.
Tenho que reconhecer o talento e a persistência dos acusadores, para elaborarem peças fictícias. Melhor seria que esses malfeitores usassem a inteligência para fazer o bem.
A SSOIL responde com trabalho e crescimento, na certeza de que não há calmaria, sempre haverá sombras ameaçando o nosso sucesso.
Ainda não é tudo
Os Governos pelos quais passamos não hesitam em baixar o preço da gasolina em busca de aprovação popular. Destroem a Petrobras e seus acionistas, em busca de uma reeleição, ou mesmo uma pequena melhora nos índices de aprovação. Não há inocentes neste processo. Quando o assunto é popularidade, as pessoas vendem o que não tem e o pior, contribuem para a desvalorização de uma empresa da qual o Brasil se orgulha e que é admirada pela sua grandeza e competência, a Petrobras.
Este foi o ambiente no qual fomos testados, para chegar aonde estamos, em plena produção, com aquisição de novas áreas adjacentes ao nosso terreno, visando o crescimento da empresa. E mais do que isto, buscando em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro o desenvolvimento e a fabricação, aqui em Coroados, de um combustível que irá renovar a aviação mundial.
O SAF vai eliminar consideravelmente a poluição hoje provocada pelas aeronaves que cortam o céu do Brasil, contribuindo de forma direta para o bem da humanidade.
Sabemos hoje que para empreender no Brasil necessitamos não só de capital. Empreender exige resiliência. Mesmo num terreno inóspito, pudemos crescer, beneficiando toda a comunidade de Coroados e, em dimensão maior, a cadeia produtiva e a sociedade brasileira.
E ainda estamos apenas no começo.
João Carlos dos Reis
Diretor Administrativo
Julho 2025
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