Ingredientes 

• 620 gramas de farinha de trigo
• 200 ml de água
• 60 gramas de açúcar
• 12 gramas de sal
• 10 gramas de fermento
• 10 gramas de leite em pó
• 1 ovo
• 260 ml de leite morno 

“Comíamos. Como quem dá água ao cavalo. A carne trinchada foi distribuída. A cordialidade era rude e rural. Ninguém falou mal de ninguém porque ninguém falou bem de ninguém. Era reunião de colheita, e fez-se trégua. Comíamos. Como uma horda de seres vivos, cobríamos gradualmente a terra. Ocupados como quem lavra a existência, e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre, e come. Comi com a honestidade de quem não engana o que come: comi aquela comida e não o seu nome. Nunca Deus foi tão tomado pelo que Ele é. A comida dizia rude, feliz, austera: ‘come, come e reparte.’ Aquilo tudo me pertencia, aquela era a mesa de meu pai. Comi sem ternura, comi sem a paixão da piedade. E sem me oferecer à esperança. Comi sem saudade nenhuma. E eu bem valia aquela comida. Porque nem sempre posso ser a guarda de meu irmão, e não posso mais ser a minha guarda, ah não me quero mais. E não quero formar a vida porque a existência já existe. Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o meu. Nós somos fortes e nós comemos. Pão é amor entre estranhos.”

Esse trecho belo e comovente é de Clarice Lispector e faz parte da crônica ‘A repartição dos pães’, incluída no livro ‘Felicidade Clandestina’. Pão é comida universal e palavra inspiradora. Todo mundo que ama cozinhar tem uma receita de pães que gosta de compartilhar. A minha é esta.

Meça os ingredientes: isso será fundamental para obter uma massa leve. Comece misturando 40 gramas de farinha com 200 ml de água. Mexa bem e leve ao fogo baixo até chegar a uma consistência de grude. Desligue a chama e espere o grude amornar. Reserve. Misture bem numa tigela o restante da farinha, o açúcar, o sal, o leite em pó, o fermento. Aos poucos acrescente o leite morno, o ovo batido e o ‘grude’. Mexa com colher, depois com as mãos, em seguida sove por cinco minutos. Coloque em vasilha funda, cubra com plástico, leve para lugar seco e quente, não ventilado, por uma hora, até crescer. Quando isso acontecer, sove para retirar as bolhas de ar e corte em pedaços. Modele os pãezinhos, disponha-os em assadeira untada e enfarinhada, leve para crescer novamente por trinta minutos. Quando estiverem crescidos, pincele a superfície com café frio e polvilhe gergelim. Leve ao forno preaquecido por meia hora ou até que fiquem dourados. Sirva com patês.

Sonia Machiavelli é professora, jornalista, escritora; membro da Academia Francana de Letras.