Pacificador foi um míssil! Nos anos 80, os Estados Unidos desenvolveram um míssil com capacidade de destruição vinte vezes maior do que as bombas que arrasaram Hiroshima. Irônico e sugestivo foi o apelido dado ao destruidor foguete – peacekeeper no original inglês, pacificador ou paladino da paz. A paz que o míssil supostamente garantiria refletia e reproduzia a antiga doutrina da Pax Romana, a imposição da ordem sustentada na força bruta. Difuso persiste o instinto das pessoas quererem se sobrepor pela intolerância. A mentalidade animosa está mais presente, e difusa, no cotidiano da vida, do que se gostaria admitir. Para muitos, viver sem medo e em harmonia não passa de utopia!
A paz começa a tornar-se realidade a medida que se substitua a mentalidade de paladinos pela de fazedores da paz! Isso envolve radical mudança de mentalidades e de atitudes. Jeito diferente de conceber o poder e administrar a soberania, quaisquer forem seus matizes! Na concepção profana, do mundo, poder é sinônimo de mando, de imposição das próprias vontades e preferências. Por natural corolário, nesta visão de predominância reprimem-se opositores e eliminam-se adversários. Este jeito prepotente de exercer o poder - que Jesus Cristo, urge lembrar, qualifica de diabólico – só gera divisão e animosidade. Na concepção mais humana, por outro lado, o poder é entendido e exercido como oportunidade para promover o bem plural. Usar com responsabilidade autoridade e soberania redunda em vantagens coletivas. Repara-se como, nesta concepção, o conceito de poder se estende e inclui toda aptidão que distingue o indivíduo. Todo cidadão é revestido de poder, uma vez que todo indivíduo possui missão especifica a exercer no mundo. Todo cidadão, portanto, é vocacionado a ser fazedor da paz, a empenhar-se em ordenar para que fins e meios convirjam para a promoção integral do ser humano. É o shalom bíblico, que inspira a priorizar o progresso do próximo antes de ocupar-se em garantir individuais vantagens ou corporativos privilégios. Indispensável, por óbvio, fica a superação de todo rancor, a eliminação de qualquer indisposição para com o outro. Não há paz possível sem regenerado coração.
A paz não é utopia! É anelo legítimo da humanidade. Fica particularmente urgente que a aura da paz ultrapasse os umbrais dos templos. Sobre os crentes, não importa a denominação, recai a premente responsabilidade de se transformarem em operários de paz. Urge reconhecer e confessar, a falta de paz no mundo denuncia a dissimulação dos rituais da paz nas liturgias! Inconcebível contentar-se com abraços e votos de paz nos templos que não se materializam, posteriormente, nas ruas. A paz que vem de Deus, natural e obrigatoriamente, transforma o agraciado em decidido fazedor da paz. Construir a paz é inalienável missão! Premente responsabilidade! Universal vocação.
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba
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