DUPLICIDADE

Com dois padroeiros na história, datas diferentes marcam aniversário de Birigui

Por Priscilla Andrade | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução
Santo Ambrósio e Nossa Senhora Imaculada Conceição: Birigui tem dois padroeiros
Santo Ambrósio e Nossa Senhora Imaculada Conceição: Birigui tem dois padroeiros

Esta é uma história que poucas pessoas sabem, e que ao longo dos anos quase passou desapercebida, mas não pelas memórias mais atentas, sobre a história da fundação da cidade, que nesta sexta-feira, 8, comemorou seus 112 anos. Ou será que o certo seria na quinta-feira, 7?

A dúvida pode ser conferida no próprio histórico da cidade. Birigui fica distante de Araçatuba cerca de 21 km, isso dá uma média de uns 15 minutos de carro, sem trânsito. As duas cidades até compartilham o mesmo clima tropical e seco, mas as coincidências param por aí.

Birigui foi fundada em 7 de dezembro de 1911 por Nicolau da Silva Nunes, um português que chegou por essas bandas em 1892. Em sua trajetória passou por outras regiões, como Rio de Janeiro, Bahia e Minhas Gerais, chegou a morar em Araçatuba, mas foi em 1911 que adquiriu cerca de 400 alqueires de terras, do que seria Birigui. Foi nessa época inclusive que nasceu a alcunha de “Cidade Pérola”. O apelido pegou quando um jornalista vindo de São Paulo em 1943 para escrever uma crônica de aniversário da cidade do senhor Roberto Clark, um dos fundadores, soltou a expressão: “desta pérola da Zona Noroeste”, que mais tarde veio a ser conhecida nacionalmente e no exterior também como a “Capital Brasileira do Calçado Infantil”, só que esses fatos aconteceram muitos anos depois. E nesta época comemorava-se o aniversário da cidade, em 8 de dezembro, e não no dia 7, data oficial de sua fundação. Mas por quê? Foi o que a reportagem da Folha da Região foi atrás para descobrir.

Antes de tudo: Os registros
A história sobre essa parte importante do surgimento de Birigui pode parecer controversa, mas não se olharmos para o conjunto de fatores que faziam sentido na época. De acordo com registros históricos, somente com a chegada de várias famílias, compradores de terras e agregados, que em 1912 foi conseguida a Rondon pelo coronel Manuel Bento da Cruz. Ele era um dos proprietários das terras. Ou seja, a cidade para todos os efeitos já existia em 7 de dezembro de 1911, mas a criação oficial como município ainda não. Apesar de naquela altura do campeonato Birigui já possuir iluminação, só foi considerada município em 8 de dezembro de 1921.

Rumo à autonomia do município, em 1919 foi constituída uma comissão por James Mellor, Nicolau da Silva Nunes, Anor Garcia, Gentil Pinto Ferreira Coelho e Mário de Souza Campos para tratar da questão com o chefe político, coronel Manoel Bento da Cruz. Nessa época a cidade já possuía energia elétrica pela Companhia de Força e Luz, como também a iluminação para Coroados, Araçatuba, Calmon, Legru e Glicério e aumento da rede de Penápolis. E, finalmente foi determinada a criação do município de Birigui em 8 de dezembro de 1921. Mas façamos os cálculos: se fôssemos contar a partir desta data, então Birigui teria 102 anos e não 112. E é aí que está o pulo do gato histórico.

Dois padroeiros, um menos popular
Ter um patrono ou padroeiro é um costume desde os primeiros séculos da era cristã. No século VI ter um padroeiro já era uma prática comum. O termo padroeiro ou patrono vem do latim patronus, que deriva da palavra “pater”, pai, e transmite a ideia de alguém que nos defende, protege, que age em nosso favor.

Por essa razão e com esse intuito, comunidades e igrejas são confiadas ao patronato de um santo, por isso as cidades tem um santo padroeiro, nas arquidioceses, diocese e afins.

A Folha da Região conversou com a professora de pedagogia de Birigui Áurea Esteves Serra. Ela que nasceu na cidade, e confirma que em Birigui, no dia do aniversário da cidade, é possível comemorar nas duas datas: no dia 7 e no dia 8, vai depender de qual santo a pessoa mais se identifica.

“De acordo com a história, podemos comemorar nos dois dias, porque Nicolau chegou aqui no dia 7 de dezembro de 1911, onde fixou residência, e por conta disso, é nesta data é comemorado o aniversário de Santo Ambrósio, Santo ligado às causas civis e militares, e por muitos anos, Santo Ambrósio foi padroeiro de Birigui, até a Igreja Matriz de Birigui ser construída, aí as coisas mudaram”, adianta a professora.

De acordo com ela, com base histórica, depois que a igreja matriz foi erguida, chegou na cidade em 1925 o primeiro capelão, que solicita ao bispo de Botucatu na época que alterasse o padroeiro, para padroeira, no caso Nossa Senhora Imaculada Conceição. O motivo seria a popularidade, já que a maioria dos fieis não conhecia Santo Ambrósio.

“Por causa desta situação que resultou na mudança de padroeiro, que se comemora também, no dia 8 de dezembro, o aniversário de Birigui, ambas as datas estão corretas”, explica.

Vale lembrar que o pedido de trocar o padroeiro das causas civis e militares na Itália pela padroeira, venerada há muitos séculos, com dogmas renovados a cada período, e bem mais popular, só foi aceito, desde que o Santo Ambrósio também estivesse presente na Igreja Matriz, para que também fosse lembrado no dia do aniversário de Birigui, que aliás, pode se considerar uma das únicas cidades, que se tem notícia, que ostenta dois padroeiros.

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