Opinião

Família Ulma

18/09/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Família inteira é beatificada! No último domingo, 10 de setembro, a família Ulma, o pai Josef, esposa Wiktória e sete filhos foram elevados à condição de beatos, mártires pela fé durante a Segunda Guerra. É a primeira vez na história da Igreja que uma família inteira é beatificada. A história desta família, recentemente revelada, apresenta comovente e inspirado testemunho para todas as famílias.

Josef e Wiktória nasceram na cidade de Markowa (Polônia), onde também se casaram. Tiveram sete filhos e viviam principalmente da agricultura, embora o pai, Josef, também curtisse fotografias. Graças a este hobby, existem registros da vida simples que esta família de agricultores levava.

Testemunhas que conheciam a família confirmam a profunda e comprometida vida religiosa da família. Ficou-se sabendo mais tarde, graças a um exemplar da Bíblia encontrado na casa dos Ulma, que um trecho particular do Evangelho de Lucas – a parábola do Bom Samaritano – pautava a conduta religiosa da família. Ao lado do texto da parábola, que fazia referência ao bom samaritano que cuidou da vítima assaltada e ferida, alguém da família, provavelmente o pai ou a mãe, transcreveu a palavra SIM.

Tanto assim, que ao conhecer a família judia dos Szalls, que fugia da fúria dos nazis, os Ulma acolheram os judeus em sua propriedade. Ao longo de dois anos, as duas famílias conviveram harmoniosamente, partilhando trabalhos, angústias, alegrias e rezas. A disparidade religiosa de forma alguma se entrepôs como empecilho para a acolhida e o subsequente convívio.

Registra-se que o bom samaritano – modelo para os Ulma – em momento algum pede a identidade da vítima assaltada. Simplesmente socorre, colocando à disposição do infeliz viajante tudo o que tinha a mão. Assim fizeram os Ulma. Acolheram e deram seguro abrigo à família perseguida.

Até que alguém os denunciou aos alemães, que invadiram a propriedade e mataram friamente, primeiro, os judeus abrigados e depois o pai Josef e a mãe Wiktória diante das seis crianças. Irritado com o desespero das crianças, o oficial alemão ordenou também a execução dos filhos. Alguns dias após o massacre, os vizinhos trataram de enterrar a família no cemitério da paróquia, quando se ficou sabendo que a mãe Wiktoria estava prestes a dar à luz a sétima criança. O corpo da criança – ainda sem nome - foi encontrado junto ao corpo da mãe.

Josef, o pai dos Ulma, costumava comentar com amigos: viver um dia inteiro de forma digna é bem mais exigente que escrever um livro!

A Igreja Católica apresenta a família como digno exemplo de acolhida, particularmente neste momento agudo quando milhares de migrantes e refugiados vagueiam em busca de abrigo e oportunidade!

Ecoando o pensamento do Papa Francisco, a mais consistente resistência à demagogia das armas é a generosa acolhida e a prática da autêntica cariade.


Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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