
Marcelo Astolphi Mazzei
Todos nós, algum dia, já tivemos a sensação de ter vivido aquele momento antes. Imagine: Você está tranquilo, andando por aí. Olha para o lado e vê uma menina de chapéu azul e saia de bailarina enchendo um balão. Uma cena sem nada demais. Aí, de repente, “boom”: você olha e sabe que já viu aquilo antes. Os gestos da menina, a bexiga crescendo, a posição exata do chapéu. Tudo se repete igualzinho aconteceu antes. Mas você sabe que nunca viu aquilo na vida, ou seja, está tendo um déjà–vu (“já visto”, em francês).
A sensação é mágica.Você consegue prever cada “frame” da cena, como se estivesse dentro de um filme a que já assistiu. Está ciente de tudo o que vai acontecer. Presente e futuro se transformam numa coisa só. Então… C’estfini. Acabou o déjà–vu. A familiaridade com a cena vai para o ralo. Tudo fica tão frugal e imprevisível quanto antes. E o que sobra é a lembrança de uma experiência quase mística. Mas que não tem nada de única. Estudos nos EUA e na Europa indicam que até dois terços das pessoas tiveram déjà–vu pelo menos uma vez na vida. Ainda assim, ele é um tema árduo para a ciência, especialmente pela dificuldade em se provocar déjà-vus em laboratório.
“Um déjà–vu é uma falha da Matrix, Neo. Acontece quando estão consertando alguma coisa…”
Mas existe um atalho para elucidar esse mistério.Morton Leeds, um estudante americano dos anos 1940, foi um deles. O rapaz tinha a extraordinária média de um déjà–vu a cada 2,5 dias. E passou um ano registrando as ocorrências num diário, com precisão científica: hora, descrição da cena, sensação. Com essa base de dados, Morton concluiu que a maior parte dos déjà-vus acontecia em momentos de stress. Já era alguma coisa. Os resultados das pesquisas, com pacientes que respondem questionários sobre seus déjà-vus, mostram exatamente isso. Eles também deixam claro que os mais jovens e viajados são os mais propensos a senti-los.
Um grupo de cientistas da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido publicou no QuarterlyJournalof Experimental Psychology uma nova explicação, e eles têm certeza absoluta de que não a viram em nenhum outro lugar.Eles concluíram que o déjà-vu acontece quando nosso cérebro está verificando o arquivo de memórias em busca de uma específica e tropeça em uma incoerência, e não que ele é uma consequência da criação instantânea de uma memória falsa de longo prazo, que era a explicação dominante até então.
Se você é do grupo que nunca teve um déjà-vu, não se preocupe. Isso não significa que seu cérebro não está funcionando bem. Pelo contrário. De acordo com os pesquisadores, não sentir o fenômeno quer dizer que seu sistema de memória, sua cabeça, não está cometendo erro nenhum de memória.
No fim, a resposta mais bacana continua sendo a da Trinity, de Matrix, o filme que mostra o planeta dominado por máquinas que mantêm os humanos presos numa realidade virtual (a Matrix). Em uma cena, o herói Neo olha para um gato preto, sente que já o viu antes e diz:– Uau, Trinity. Tive um déjà–vu…E ela acaba com o mistério:– Um déjà–vu é uma falha da Matrix, Neo. Acontece quando estão consertando alguma coisa…
*Marcelo Astolphi Mazzei é secretário municipal de Desenvolvimento Econômico e Relações do Trabalho em Araçatuba
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