
Rakelly Aparecida estava indo para seu curso de psicologia quando tropeçou numa lâmpada mágica. "Ca*alho de calçada esburacada dos infernos!" Ao avistar o objeto, a estudante se lembrou de "Alladin", uma de suas animações favoritas, ficando em dúvida. "Será que esfrego essa merda? Ai, Rakelly Aparecida, você tem vinte anos, cresça de uma vez por todas!" Só que Rakelly era muito curiosa. Checou para ver se tinha alguém em volta, pegou a lâmpada nas mãos e a esfregou. Uma fumaça escura começou a sair do bico da lâmpada mágica. Temendo ser uma bomba, Rakelly jogou a lâmpada no chão e… BUM! Um senhor de bigode escuro e cabelos brancos (totalmente descabelados) apareceu na sua frente. Rakelly ameaçou gritar, mas o senhor foi reconhecido pela estudante assim que mostrou a língua para ela. "EINSTEIN? ALBERT EINSTEIN?" O físico alemão acendeu um cachimbo, fazendo um "sim" com a cabeça. Rakelly não entendeu nada. "Por*a, não era pra aparecer um gênio?" E sacou tudo segundos depois, dando uma risadinha amarela. "O senhor é um gênio, né?"
Rakelly pegou Einstein pelo braço. "Meus colegas vão pirar! A universidade fica logo aí, vambora!" Calmo e observando a estudante, o físico a acompanhou.
Perto das escadarias, Rakelly tratou de procurar suas amigas, Taiane e Taele. Elas estavam sentadas num murinho, trocando banalidades. (Taiane) - Minha religião é a certa. Morro de medo da religião dos outros. (Taele) - Verdade. Temos que separar as pessoas de bem das pessoas do mal." Antes que Rakelly abrisse a boca, Einstein soltou. "O senso comum nada mais é do que um depósito de preconceitos que se assentam na mente antes de você alcançar dezoito anos".
Taiane ficou brava. "Credo, quem é esse véio intrometido?" Rakelly se empolgou. "ALBERT EINSTEIN, HELLO!" Taele riu na cara dela. "Ah, tá. E eu sou Cleópatra. Rakelly, o que você anda fumando? É só um morador de rua, pare de imaginar coisas!" Einstein respondeu. "Imaginação é mais importante que conhecimento. Conhecimento é limitado, a imaginação cerca o mundo".
Taiane puxou Taene. "Bora pra aula que o sinal já bateu. Tchau, Rakelly. A gente perde tempo com suas asneiras, vamo acabar repetindo de ano". Einstein aconselhou. "Quando todo o resto falhar ou faltar, resta-nos a imaginação". A dupla revirou os olhos e subiu as escadas. Einstein olhou para Rakelly. "Às vezes, não sei se o louco sou eu ou se são os outros."
A estudante nem ligou. Vendo a sala de aula lotada, colocou o físico para dentro e anunciou. "Com vocês, Albert Einstein!" Uma risada coletiva tomou conta do lugar. "AHHAHAHAHA!" Rakelly ficou possessa. "Estão duvidando ainda!" Einstein a acalmou. "É importante não deixar de questionar. A curiosidade tem uma razão de existir".
Mesmo incrédulos, os alunos ficaram chocados com a semelhança física. "Carai, Rakelly, o cara é a fuça do homem!" "Parabéns pela ideia, pena ser absurda". Einstein respondeu, desta vez para todos. "Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela".
A classe caiu na gargalhada. "KKKK". Einstein sussurrou para Rakelly. "Não sei por que todos me adoram se ninguém entende minhas ideias". A estudante explicou. "É que a situação é surreal! Um dia, eles vão entender". O físico a desanimou. "Cada dia sabemos mais e entendemos menos".
Como Jonas, o professor que iria dar aula, havia escutado tudo, já entrou na classe fazendo uma proposta. "Toma aqui, meu senhor. Vinte reais. Ótima encenação, agora vaza". Einstein respondeu calmamente. "Os ideais que iluminaram meu caminho, e que várias vezes me deram coragem para enfrentar a vida com alegria, foram bondade, beleza e verdade. Os objetivos banais dos esforços humanos - posse, ostentação e luxo - sempre me pareceram desprezíveis".
Jonas guardou o dinheiro. "Bom, azar o seu". O físico rebateu. "O azar não existe; Deus não joga dados". Irritado, o professor falou grosso. "Se manda! Tenho noventa cabeças para ensinar". Einstein olhou para os alunos.
"Poucos são os que enxergam com os próprios olhos e sentem com o próprio coração". Jarbas ameaçou. "TE BOTO EM CANA!" Einstein ergueu uma sobrancelha. "Lembre-se: as pessoas podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento".
Enquanto a classe inteira vaiava o físico, Jonas o colocou para fora a pontapés. Já no corredor, Rakelly se desculpou por toda a grosseria. O físico deu de ombros. "Os grandes espíritos sempre tiveram que lutar contra a oposição feroz de mentes medíocres". A estudante sentia-se culpada. "Como iriam acreditar? O erro foi meu!" Einstein deu uma piscada para ela. "O único homem que está isento de erros é aquele que não arrisca acertar".
Rakelly levou o físico até a lâmpada. "Vão achar que eu sou louca". Einstein pegou no braço da estudante. "A maioria de nós prefere olhar para fora do que para dentro de si mesmo".
Antes que Rakelly se despedisse do físico, Jonas e dezenas de alunos apareceram correndo pela calçada. "Peguem esse pilantra!" Desesperada, Rakelly esfregou a lâmpada novamente. Mesmo sendo sugado pela fumaça, Einstein ainda teve tempo de deixar um recado. "Apenas duas coisas são infinitas: o universo e estupidez humana. E ainda não estou certo sobre o universo".
Assustadas, as pessoas ali presentes não souberam explicar como aquele "truque de mágica" aconteceu. Mesmo assim, continuaram tirando sarro da estudante. "Tanto lugar pra reencarnar e Albert Einstein viria para ARAÇATUBA? E o pior: pelas mãos de uma pessoa chamada RAKELLY APARECIDA?"
Normal.
Como diria o próprio Einstein, "Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito".
Celso Dossi é escritor, colunista e roteirista
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