ARTIGO

1932 à vista


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As notícias relativas à Revolução de 1932 mereciam a capa de “O Momento”, com contribuição de Francisco Lagreca que tinha uma coluna fixa intitulada “A Guerra Santa”, a qual durou quase todo o período do levante. Eram publicadas determinações do município, liderado pelo prefeito Luis Dias Gonzaga, conforme orientações da liderança revolucionária. A imprensa não deixou de lado a rotina, anunciando diariamente a programação do cinema, os convocados para a patrulha na cidade assim como a guarda feita pelo Tiro de Guerra em locais considerados como essenciais (teatros, cinemas...), falecimentos e aniversários. Havia espaço considerável destinado às religiões como a coluna do catolicismo e o culto evangélico (destacando as ações dos metodistas e presbíteros). Muitas manchetes ecoavam a vitória de São Paulo sobre as forças federais. Jornais da época tinham limitação de espaço e serviam para explicar situações complementares que era ouvidas no dia a dia no boa a boca.

As notícias de estados vizinhos a São Paulo e da capital paulista eram reproduzidas do rádio. Jornais locais não tinham correspondentes. Alguns, como Mario Neme, Francisco Lagreca e outros escreviam cartas para seus amigos e familiares e eram reproduzidas nos veículos de comunicação impressos, servindo como base para um jornalismo narrativo e investigativo.

O Batalhão Piracicaba é assim denominado pela primeira vez, com referência aos cidadãos locais que se voluntariaram pela causa constitucionalista. Depois é alterado para Batalhão Piracicabano. Uma nota na imprensa o cita como Batalhão Noiva da Colina. Em seguida, é denominado de Coluna Boaventura, em homenagem ao seu comandante. Alguns registros mostram que os piracicabanos também receberam o cognome Coluna Maldita (Columna Maldicta, na grafia da época), pelas barbáries cometidas e não descritas nos veículos de comunicação. Há apenas uma citação de Jacob Diehl Neto dizendo que o grupo parecia como mercenários mal liderados.

Boaventura veio do Rio de Janeiro, alguns meses antes do início da Revolução. Era militar do Exército Brasileiro. Em carta, assinada apenas por Moraes, publicada no Jornal de Piracicaba de 27 de agosto de 1932, há uma citação de que a “Columna Maldita” não fuzila (como diziam). 
Ainda o Jornal de Piracicaba em 11 de setembro de 1932, trouxe o seguinte relato: “Próximo a esta data, chovia e fazia frio. Os cariocas pediram para cesar fogo para esquentar os pés. A outra desceria o monte e escalaria o fronteiro, metralhando e fuzilando o adversario sem cessar”. Não há referência de que esta seria uma ação da “Columna”.

Piracicabanos se agruparam ao 4º. Batalhão de Caçadores da Reserva atuando no Setor Norte da batalha. Segundo a revista “A Cigarra”, de setembro de 1932, estes voluntários realizaram acampamento em Cruzeiro e Guaratinguetá.

“Aqui em Piracicaba, iniciada a mobilização dos futuros componentes do 1°. Batalhão Piracicabano na segunda-feira do dia 10 de julho, partia o mesmo no sábado dia 16, do mesmo mês, com mais de 600 homens e algumas mulheres, pois o entusiasmo era tão grande que houve alguns casos de famílias inteiras se alistarem e seguirem neste batalhão”, disse Manoel Sampaio Mattos, que presidiu o MMDC de Piracicaba entre 1969 e 2000. “(...) Só no setor do Coronel Euclides Figueiredo, Setor Norte, para onde seguiu o nosso Batalhão Piracicabano, incorporado posteriormente ao 4º. B.C.R., entre voluntários e soldados regulares, nós tínhamos cerca de 20.000 homens – Só nesse setor”, relatou Mattos ao Jornal de Piracicaba em 9 de julho de 1986.

O número exato de voluntários servidos por Piracicaba é incerto. Os documentos, se existiram, sumiram. Alguns piracicabanos se alistaram em outras cidades. Outros que escolheram Piracicaba como cidade para residir, trabalhar ou estudar, não eram natos aqui e, portanto, não tiveram sua história devidamente escrita.

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