LUTO

Morre chapeiro Jacir, 'homem de 50 mil baurus', ícone do Skinão

“Eu gosto de fazer os lanches, e gosto de comer também! Mas o que marcou mesmo foram as muitas amizades que fiz aqui”

Por João Jabbour | 3 dias atrás | Tempo de leitura: 3 min

Quioshi Goto/JC Imagens

Jacir Braga, quando ainda era chapeiro no Skinão
Jacir Braga, quando ainda era chapeiro no Skinão

Morreu neste sábado (29) em Bauru Jacir Barbosa Braga, aos 70 anos. Jacir é figura histórica do lendário bar e lanchonete Skinão, estabelecimento precursor da receita original do sanduíche Bauru. Jacir, chapeiro do local e amigo de todos que frenquentaram o Skinão durante décadas, era conhecido como "o homem dos 50 mil baurus", tamanha a quantidade de lanches que ele produziu, sempre de forma impecável.

Seu corpo será velado no Centro Velatório Terra Branca, a partir das 14h deste sábado. O sepultamento ocorrerá na manhã de domingo (30), no cemitério Parque Jardim dos Lírios. 

Jacir Barbosa Braga era um “patrimônio” do Skinão, que desde 1971 tem a fama de fazer o melhor (e verdadeiro) sanduíche que leva o nome da cidade. “É um lanche conhecido no mundo inteiro, é uma honra ter feito tantos baurus...”, comentou Jacir em 2015, em entrevista do Jornal da Cidade, já saudoso, às vésperas de pedir sua aposentadoria naquele ano.

- E quantos lanches seriam? Ele respondeu: “Já tentamos fazer as contas, mas é difícil... Dá uns 50 mil. Meu recorde foi em um Carnaval: fiz 1.200 baurus em uma noite só! Vai rapidinho, mais ou menos 30 segundos, porque os ingredientes já ficam cortados”, conta.
- Mas tanto sucesso não deve ser à toa: há algum segredo no preparo desse sanduíche? “Não tem segredo, apenas faço o lanche bauru com amor e carinho”, disse, com sincera humildade.

“Eu gosto de fazer os lanches, e gosto de comer também! Mas o que marcou mesmo foram as muitas amizades que fiz aqui”, afirmou ao jornal.

Jacir é de Marialva, no Paraná, e veio a Bauru com 18 anos. Era mascate, vendia roupa e enxoval na rua. Sua esposa estava grávida e ele precisava de um emprego registrado para o ter o INPS (atual INSS). "Meu cunhado era garçom no Skinão e me chamou para trabalhar. Achei que ficaria somente até minha mulher ter nenê, mas tomei gosto e estou até hoje, já são 37 anos", afirmou ao JC, em 2015.

Conheceu gente famosa

Entrevista concedida à jornalista Aline Mendes

JC - Já começou direto na cozinha do restaurante Skinão?

Jacir - Eu não tinha experiência, e nem sonhava trabalhar em cozinha. Comecei fazendo serviços gerais, mas um dia faltou alguém na cozinha e seu Zé (José Francisco Junior, o dono do bar) pediu para eu ser chapeiro dizendo que ia ser bom, pois melhorava o salário. Eu aceitei e fui aprendendo.

JC - Como era sua relação com ele?

Jacir - O seu Zé era um homem bom, muito bacana. Era divertido, contava muitas histórias e piadas. Tenho várias lembranças dele trabalhando do meu lado. Considero que ele foi meu segundo pai. O seu Zé me ensinou tudo e me ajudou muito, me deu uma força com a papelada para conseguir minha casa no Beija-flor. E só fazia um ano que eu trabalhava pra ele, passei a dar mais valor ainda. Eu tinha amizade com seu Zé... Faz 12 anos que ele faleceu, fiquei chocado.

JC - Que “causos” foram mais marcantes nesses 37 anos?

Jacir - Tem tanta coisa... De ruim foi uma vez no Centro quando chegou um rapaz armado para roubar um cliente. O bandido pediu a correntinha que estava no pescoço e o cliente tirou, mas jogou atrás do freezer para o cara não levar... Só que o assaltante fez o moço ir pegar. Eu tremia de medo! De bom é que conheci muita gente e fiz amizades. Toda quinta-feira, antes da Sexta-feira Santa, a gente fechava o bar um pouco mais cedo e fazia uma peixada só com os clientes mais chegados e os funcionários; era uma tradição muito legal.

JC - O Skinão recebe artistas e gente ilustre. O senhor sai da cozinha e vai conhecer essas pessoas?

Jacir - Já passou bastante artista por aqui e alguns foram conhecer a cozinha. Eu não sou de tirar foto. Lembro de ter feito lanche para a dupla Guilherme e Santiago, Elizabeth Savala, Marcos Pontes...



 

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