A chama da vida

Por Marisa Bueloni | 17/11/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Não quero repetir os temas, mas a vida é o grande assunto, a eterna temática da crônica semanal. Somente a vida importa, e seu cotidiano nos chama ao dever diário, à nossa condição atual, ao lugar onde estamos e onde somos felizes ou não.
A chama da vida se apresenta como um fogo inextinguível. Passo pelo crucifixo ao alto da parede que leva ao corredor e aos quartos da casa, inclino minha cabeça em sinal de reverência e pergunto a Ele até quando. Até quando o incêndio na alma, até quando esta sensação de que o céu vai desabar sobre nós, repentinamente.
O amor à vida e o interesse por ela, por tudo o que nos mantém vivos, constituem um sentimento de profundo respeito à Criação. Tomar a parte que nos cabe, nem mais nem menos, o suficiente para ter as nossas necessidades básicas atendidas. O que sobre para mim não falte ao outro.
Esta consciência passa por um viés político de primeira grandeza. A partilha do pão diz respeito a esta atitude também. Um olhar à nossa volta pode nos mostrar o essencial, sobretudo o compromisso com a preservação do meio ambiente. Quando leio que vão colonizar Marte, prospectar planetas habitáveis, ah, me dá vontade de sair gritando.
A chama da vida nos ajuda a entender um pouco essa parte que nos cabe. Cada um na sua missão, desenhando com equilíbrio sua estada nesta gentil pátria de seres humanos. Sou de uma geração maravilhosa, dos dourados anos sessenta. Eu estava na faculdade, vivendo o sonho daquela época, a liberação dos costumes, as ideias revolucionárias que romperam com o conservadorismo de décadas. A partir dos anos 60, o mundo nunca mais foi o mesmo.
Hoje, cumprimento online a todos com a saudação franciscana “Paz e Bem”, e espero com isso despertar a espiritualidade de um santo que amou a natureza com devoção. São Francisco me inspira desde sempre com sua humildade que perseguimos em vão.
A chama da vida nos fará voltar ao grito primal, à origem do ato criador, ao coração da nossa existência, para celebrar a gênese eterna e misteriosa da nossa passagem por este mundo. Algo pulsa em nós todos os dias, queiramos ou não. Seja medo, angústia, alegria, ira, depressão, esperança, amor – algo nos move ao infinito.
O mistério da vida, o mistério da morte. Por que nascemos, se vamos morrer? Não. Não pretendo discutir os desígnios divinos. Deus é Todo-Poderoso e rendo-me, de joelhos. Reconheço minha miséria e pequenez. O Senhor é perfeito em Sua Criação. Contudo, na implacável fila da vida, é dolorosa a partida dos que amamos, sobretudo nestes tempos sombrios de vírus mortais.
A chama do amor à vida não se apague em nós, apesar das desventuras e desencontros. A tudo suportemos com esperança. A tudo acolhamos, aceitando o que não se pode mudar, mas lutando para transformar o que for possível. E sabedoria para as decisões mais difíceis.
Penso que ainda teremos algum tempo. Para que cada um conclua seu projeto de vida, para que algum sonho secreto se realize. Os tempos são cruéis, a violência, a falta de amor, a corrupção não cessam e existe medo em toda parte. De qualquer forma, caminhantes que somos, estamos sempre dando o próximo passo, custe o que custar. E assim mantemos acesa a chama da vida. Paz e Bem!

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