Há de chegar a hora da beleza. Monto guarda à espera deste momento sagrado. Fina sintonia com o universo em flor. Chama de um fogo necessário. Vento que sopra em nossos sonhos, em nossas lutas diárias. Hora do colossal assombro.
Anseio pela hora da paz absoluta. Pela luz de um dia inesquecível. E sob o domínio de toda maravilha, deixar-se cativar pelo desconhecido, descobrir que rumo tomar numa decisão inesperada, quase triste, desesperadora, mas coberta de esperança!
Como será esta hora? Hora de repensar nossos atos, palavras e omissões. Toda a nossa existência passando diante dos nossos olhos, como num filme. Cena após cena, imagens em sequência, confronto com nossa realidade interior, tudo o que fizemos e dissemos, num livro aberto e aterrador. Se for belo para nós, será belo para Deus.
Virá sobre a humanidade esta luz benfazeja que tudo clareia, purifica e transforma? Para que o homem habite um mundo novo precisará de um novo coração. Costuma-se dizer que a mudança deve começar dentro de cada um. Se eu mudo, o mundo muda, porque passo a ver tudo com olhos renovados. Mas o mundo não mudou, eu é que mudei.
Ah, as mudanças! Quão imperiosas são, para que venha a hora salutar da transformação. Dizemos que não se podem esperar resultados diferentes, se fazemos tudo da mesma forma, sempre. É preciso ousar, fazer diferente e encarar desafios, para que o novo apareça e traga novas perspectivas para nossas vidas.
Contudo, como é difícil mudar. Estamos moldados no nosso cotidiano, acomodados nas manias e rotinas. Está tudo bem assim. Para que buscar novidades? Temida é esta porta que a maioria hesita em abrir e, confesso, me incluo neste contingente de indecisos e medrosos. O novo nos assusta e nos faz recuar. Estar no conforto da segurança nos garante a continuidade tranquila e alterar esta fórmula nos inquieta.
Uns dizem: “melhor não arriscar”. Meu pai diria: “não se troca o certo pelo incerto”. Cansamos de ouvir: “não se mexe em time que está ganhando”. Eu também vou pela prudência. Mas o que é estar seguro? Deve ser uma aventura dar aquele passo decisivo e final. Por que não o damos? Medo de quê? De sermos surpreendidos pelo sofrimento, pela angústia do arrependimento, ou medo do ridículo. Ou ainda ter de ouvir de quem nos alertou: “eu não disse?”. É dor que não acaba mais.
Para evitar a possível dor, ficamos onde estamos. Melhor não mexer neste baú trancado a sete chaves. Deixa a vida correr solta, vivendo um dia de cada vez. Ainda que a rotina nos sufoque, que a falta de sonhos nos tire o brilho dos olhos, preferimos protelar a felicidade, num gesto de procrastinação perene. Oh, não!
Mas há de chegar um momento de intenso calor e ofuscante luz. Serão revelados os segredos dos corações. A iluminação da consciência nos pegará de surpresa e fatalmente desprevenidos. De joelhos, meus anjos. A profecia nos porá simplesmente de joelhos. Para que vejamos melhor quem somos, de onde viemos e para onde vamos. Desde menina, creio que vamos para o Pai.
Espero pela luz mais brilhante que o Sol. Espero encantada e levanto os olhos para os céus todos os dias. Rezo um Pai-Nosso com lágrimas escorrendo pela face. À noite, antes de dormir, saio à rua do meu condomínio, em frente da minha casa, e converso com as estrelas. Ora, direis.
Quero dizer que me recuso a retardar o encontro com a beleza. Que se for preciso, mudarei sim. Ousarei, sim. Quebrarei protocolos, cometerei algumas leves transgressões e tocarei de leve na maçaneta desta porta fascinante que leva ao novo. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Lembra?
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