Para os que dormem tarde

Por Marisa Bueloni |
| Tempo de leitura: 3 min

Penso que deve haver algo de muito importante na vida de quem dorme tarde. Eu durmo tarde e sei de um batalhão de gente que também não vai para a cama antes da meia-noite. Leio sempre relatos de escritores, artistas, noctívagos em geral, de pessoas comuns que não conseguem dormir cedo.

É como se o dia precisasse de mais horas e a noite não fosse nenhum obstáculo para continuar o trabalho, a lida, o estudo, a pesquisa, o ato de criar e produzir. Para muitos, a noite é propícia para a criação, sobretudo a literária. No silêncio noturno, as frases brotam espontâneas e belas. Ou devastadoras. Depende.

Que hábito é esse de dormir tarde? Penso sempre no grande mistério do sono. Por que dormimos? Vemos em nós mesmos os estragos de uma noite mal dormida, ou de quando, por alguma razão, precisamos ficar de vigília. Sim, basta uma noite insone e acordamos com olheiras, de um jeito que não queremos nem nos olhar no espelho. Por esta razão, as modelos lindíssimas afirmam que a melhor maquiagem é uma noite de bom e profundo sono.

O sono é fundamental para a saúde. Depois de um dia exaustivo, tanto para a mente como para o corpo, existe algo melhor do que um banho morno, um creme hidratante para a pele e lençóis aconchegantes? Para mim, não há. Se estiver disposta, ainda faço um chá destes que induzem ao sono.

O que é o sono? Por que dormimos? E por que vamos dormir depois da meia-noite? Somente pode se dar ao luxo de dormir tarde quem não precisa levantar cedo. Verdade. Mas não levanto muito tarde, não. É como se meu ritmo biológico já tenha se habituado a uns horários meio irregulares e vai se adaptando bem a eles.

Lemos que o ideal são oito horas de sono. Mas os adultos dizem que, com o passar do tempo, a necessidade de sono vai diminuindo. Assim, mesmo dormindo relativamente tarde, acabo acordando num horário bom, que me permite aproveitar parte da manhã para uma caminhada, tomar sol no meu quintal, enfim, começar o dia com disposição e ânimo.

Aproveito as horas noturnas com gosto. Rezo, escrevo, medito, faço algo que acalme meu coração. Com a casa mergulhada no silêncio, resolvo sair lá fora e espiar o céu de junho. Este céu noturno brilhando para mim às duas da manhã, as estrelas tremeluzindo distantes. Onde está você?

Onde está você, meu lindo? São doze anos da sua partida e não dá para esconder a dor desta separação tão triste. Depois que você se foi, passei a dormir tarde, quando ainda morava na nossa chácara do Campestre. Lá, de madrugada, sem medo de sapos na varanda, nem das aves noturnas, ficava sentada no “nosso banco”, pedindo que me ajudasse a voltar para a cidade.

Neste banco, em tantas meias-noites, me perguntei “onde está você?”. E sob o céu que nos protege, pedia uma luz, uma bênção divina, um venturoso ano novo, destes que esperamos com a alma em chamas. Era sempre tarde quando eu me recolhia, para continuar sozinha a oração que nunca termina.

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