Cada coisa no seu devido lugar

Por André Sallum | 04/06/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Um dos preceitos de organização e eficiência é ter um local para cada coisa e colocar cada objeto no seu devido lugar. Isso, ao lado da utilização de cada instrumento para sua correta função, mantém os ambientes ordenados, facilita a obtenção do que se deseja, sabendo onde se encontra e qual a sua finalidade, economizando tempo e otimizando as tarefas.

A existência humana também obedece a determinado ordenamento, o qual, à medida que vai sendo compreendido e aplicado, favorece tanto a vida individual quanto relações interpessoais mais funcionais e saudáveis. Quando as funções vitais e os veículos de sua expressão, sejam mentais, emocionais ou físicos, encontram-se deslocados ou incorretamente utilizados, passam a gerar desarmonias ou agravar desequilíbrios.

Quando, por exemplo, manifestamos a tendência de julgar e criticar sistematicamente atitudes e ações alheias, estamos nos desviando da tarefa primordial de reconhecer em nós mesmos aquelas que sejam inadequadas e, a partir de um trabalho de autoconhecimento e educação, promover as necessárias mudanças interiores. Segundo o mesmo princípio, ao nos colocarmos como vítimas, seja de quem ou do que for – pessoas, governos, instituições, religiões – abdicamos do atributo de autodeterminação, justificando nossos fracassos, frustrações e conflitos, projetando-os no que se encontra fora de nós.

Do mesmo modo, ao interferirmos indevidamente na vida alheia, expressamos uma inadequação nas relações interpessoais, quando, sem que sejamos solicitados, emitimos opiniões, damos conselhos e julgamos as pessoas e suas atitudes, sem conhecer-lhes a natureza mais profunda nem as razões pelas quais agem de determinada maneira. Outra disfunção frequente que nos caracteriza é a pretensão de resolvermos, teoricamente, os problemas alheios, sendo que questões semelhantes, quando dizem respeito à nossa vida pessoal, continuam sem solução.

Na área religiosa, um exemplo de desvirtuamento de função é o fanatismo, transtorno em que se usa a religião, ou uma visão distorcida e corrompida dela, para agredir, condenar e excluir, ao mesmo tempo para fugir de conflitos íntimos e compensar complexos de culpa, evidenciando o quanto tais comportamentos se encontram distantes de um saudável exercício da fé. Do mesmo modo, de nada adianta ficar rezando o dia todo e negligenciar tarefas que esperam pelas mãos para serem realizadas.

O uso indevido de qualquer energia pode ser considerado um desvio de sua função primordial. Por exemplo, atitudes ou ações que degradem, violentem ou desrespeitem o corpo físico, fugindo da sua condição de veículo da consciência e templo do espírito, não deixam de ser uso inadequado do organismo. Quando se usa a energia vital e a força de forma agressiva e violenta, essa energia está sendo desvirtuada, quando poderia ser utilizada de modo construtivo e saudável.

Estamos de tal modo fragmentados e desarmoniosos que frequentemente nos colocamos em situações conflitantes, saindo do nosso centro, da essência do que somos e entrando no turbilhão de forças da personalidade – antagônicas e desagregadoras. Quando, por outro lado, conseguimos nos manter integrados e alinhados, passamos a irradiar energias positivas e a agir corretamente, beneficiando quem se encontra no âmbito da nossa consciência e os grupos dos quais fazemos parte. Dessa forma, tornamo-nos capazes de usar as energias a serviço de algo maior, dos propósitos da Vida que habita em nós.

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