Aspectos do caminho espiritual

Por André Sallum | 28/05/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Diversas escrituras e textos considerados sagrados, de quaisquer religiões, podem a princípio parecer enigmáticos, ininteligíveis, fantasiosos ou contraditórios; portanto, a fim de que sejam compreendidos e praticados, precisam ser interpretados e explicados por indivíduos suficientemente instruídos e idôneos. Além disso, aqueles que se colocam como guias ou instrutores espirituais deveriam utilizar-se, além de palavras e sermões, do próprio exemplo como recurso pedagógico, o que nem sempre sucede. Apesar de tais senões, o trabalho de orientação espiritual é necessário e útil.

Do mesmo modo que o estudante mais maduro pode tornar-se autodidata, o peregrino que durante a jornada existencial haja reunido suficiente gama de experiências e desenvolvido o discernimento pode, por si mesmo, aprofundar sua busca espiritual. Nesse sentido a intuição – compreensão direta, não mediada pelo pensamento – bem como a inspiração – recepção de revelações e verdades de níveis superiores – tornam-se ferramentas valiosas no caminho de emancipação espiritual. Quem alcança por esses e outros meios uma percepção mais ampla da realidade e se despoja dos obstáculos à expressão da essência do ser pode ler diretamente no livro da vida e compreender o que para muitos permanece oculto, assim como extrair de cada situação as lições, revelações e oportunidades de que é portadora. Tal pessoa, embora possa receber orientações sempre que necessário, não mais carece de intermediários para sua realização espiritual. Graças à sua lucidez, torna-se capaz de reconhecer o significado e os propósitos contidos em cada episódio do cotidiano. Esse nível de consciência não possui relação direta com instrução formal, títulos acadêmicos ou condição socioeconômica, pois há seres sem nenhum destaque nessas áreas, possuidores de imensa sabedoria, e outros que, embora gozem de prestígio segundo padrões mundanos, revelam profunda ignorância quanto às leis que regem a vida e as relações entre os seres.

Como ainda temos áreas de conflito em nossa vida, assim como setores do nosso ser em que o ego predomina, precisamos tomar cuidado para, no afã de nos emanciparmos, não sermos traídos pelo orgulho e presunção. Nunca é demais enfatizar a necessidade de prudência e humildade diante dos amplos horizontes espirituais que se nos apresentam, com seu fascínio e mistério.

Vivemos numa época em que significativa parcela da humanidade parece suficientemente madura para assimilar instruções mais amplas relacionadas à espiritualidade. Testemunhamos uma difusão sem precedentes de informações e orientações dessa natureza, graças às modernas tecnologias, as quais, se corretamente utilizadas, podem significar impulso e estímulo à instrução e sobretudo à vivência mais plena e compartilhada das verdades espirituais assimiladas.

Se nunca dispusemos de tantas informações, nunca foram tão necessários o discernimento, a lucidez e a intuição para selecioná-las. Considerando a validade da advertência evangélica, importa reconhecer que existe muito joio no meio do trigo das revelações e interpretações espiritualistas e religiosas. Portanto, o mergulho em si mesmo na busca do autoconhecimento, a purificação e o aprimoramento do caráter, a introspecção e o silêncio meditativo, a oração e a orientação de instrutores – seja pessoalmente ou através de suas obras – tornam-se ferramentas úteis para o bom êxito de qualquer empreendimento, sobretudo os de natureza espiritual.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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