Fidelidade

Por André Sallum | 26/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Em diversos momentos da vida, atendendo às convenções humanas e ao simbolismo dos rituais e cerimônias, são feitos ou confirmados votos e juramentos, em solenidades religiosas, acadêmicas, sociais ou culturais. Geralmente dizem respeito à parceria conjugal, aos compromissos profissionais, cargos públicos ou funções religiosas. No entanto, a vida mostra que entre a afirmação de tais votos, feitos em momentos de euforia e entusiasmo, e seu cumprimento nos difíceis desafios do cotidiano, a distância é imensa.
A fidelidade apresenta diversas faces, da mais aparente às mais ocultas, e em muitas circunstâncias apenas nossa consciência é capaz de apreciar se estamos sendo integralmente fiéis. Do mesmo modo, a infidelidade se mostra com incontáveis nuanças, desde o flagrante desrespeito à confiança alheia até formas sutis e dissimuladas de traição. Ser fiel significa em primeiro lugar ser sincero consigo mesmo. Ninguém trai outrem sem que antes tenha traído a si mesmo, pois a integridade e a verdade, quando partes do caráter, promovem atitudes igualmente íntegras e honestas.
O indivíduo que haja amadurecido espiritual e psicologicamente torna-se fiel à realização de quaisquer tarefas assumidas, preenchendo-se de satisfação ao cumpri-las. Por isso, quem se encontra alinhado com os propósitos maiores da vida e com a própria consciência não necessita de nenhuma vigilância externa quanto ao cumprimento do que deva realizar, e somente quem ainda é dominado pelo ego precisa ser fiscalizado externamente. Uma educação que contemple valores morais e princípios espirituais obviamente contribuiria para que as pessoas, mais responsáveis, se tornassem fiéis cumpridoras dos seus deveres, sentindo a alegria disso decorrente, ao mesmo tempo beneficiando o grupo social de que fazem parte.
No mundo atual, conflituoso, imediatista e hedonista, a todo momento chegam convites à infidelidade. Isso ocorre nas relações conjugais, na família, no ambiente de trabalho, nas tarefas comunitárias e até mesmo naquelas de natureza voluntária e religiosa. Frequentemente somos tentados – pelas nossas próprias fragilidades – a negligenciar compromissos abraçados e a debandar das atividades que não satisfazem nossos interesses personalistas. Ainda oscilamos entre o entusiasmo e o desânimo, a persistência e a deserção, por isso carecemos de permanente educação, a fim de que aprendamos a ser fiéis aos princípios nos quais acreditamos e a seguir aquela força maior que impulsiona e rege a vida de todos nós.
Aqueles que deixaram um legado de amor, sabedoria e serviço ao mundo foram invariavelmente fiéis aos seus ideais, tendo-se dedicado incansavelmente ao trabalho até que conseguissem realizar aquilo que se propuseram expressar e doar à sociedade.
A fidelidade depende de inúmeras virtudes, como a paciência, a perseverança, a disciplina, a retidão de caráter e a fé, as quais permitem que o indivíduo permaneça no lugar em que a vida o situa fazendo o melhor ao seu alcance na realização das tarefas nobres que haja assumido.
Parece que nunca houve, como nos dias atuais, tanta facilidade para o abandono dos deveres, nem tantas propostas fantasiosas, sedutoras e hipnotizantes para o afastamento do indispensável esforço de auto iluminação; ao mesmo tempo, nunca foram tão necessários e urgentes o prosseguimento nas tarefas de autotransformação, educação e auxílio ao próximo, assim como a persistência na manifestação da fraternidade, objetivando o bem maior para todos.

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