Jornada humana

Por André Sallum | 12/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min

A vida, dentre seus muitos aspectos e mistérios, pode se apresentar como uma jornada, a qual, na dimensão física, vai da concepção até a morte do corpo. Nessa peregrinação passa-se pelos mais diversos trechos, alguns planos
e livres, outros irregulares e acidentados, uns tranquilos e fáceis de serem transpostos, outros perigosos e desafiadores. Nessa sucessão de etapas, os fatos, as circunstâncias, os personagens e seus papéis se alteram e se transformam. Das inumeráveis fases e experiências existenciais, há aquelas cuja ocorrência se dá de acordo com nossas atitudes e decisões pessoais, ao lado de outras que sucedem independentemente de nossas escolhas ou concordância.

Daí a importância, a fim de se evitarem sofrimentos desnecessários, de se exercitar o desapego, ao lado da compreensão de que tudo no mundo material é transitório, desde as circunstâncias que mudam a todo instante até o próprio corpo físico, simples veículo de expressão da consciência, o qual, a qualquer momento, deixa de funcionar, no fenômeno da morte.

A lucidez decorrente de uma visão mais ampla da vida permite a libertação de apegos, condicionamentos e rigidez em relação a quaisquer fenômenos da existência, sejam externos ou interiores. À medida que se aprofunda na descoberta de realidades essenciais da vida, o ser passa a considerar os fenômenos transitórios sob outro olhar, mais sereno e desprendido, o que, ao lado de evitar muitos padecimentos, permite que se crie um espaço interior para que a vida, em sua permanente renovação, se expresse mais livre e plenamente.

Existe um fl uxo natural e espontâneo de vida que permeia todos os seres, cada um em diferente nível de consciência e de expressão, o qual, desde que não esteja obstruído nem contaminado por aspectos desarmônicos, ao se manifestar revela por si só os propósitos da existência. Se estamos na matéria, a vida nos impõe agir na dimensão física, sem tentativas de fuga por mecanismos psicológicos escapistas. Por outro lado, limitar-se ao mundo material é empobrecer a própria vida, tirando-lhe imensas e valiosas possibilidades de transcendência, ressignifi cação e mesmo de ação a partir de uma consciência ampliada, a qual abrange a matéria sem se limitar a ela.


Ao reconhecer a si mesmo bem como aos demais como peregrinos no mundo material, em trânsito para outras realidades e dimensões da vida, como propõem as instruções de natureza espiritual, o indivíduo se livra de incontáveis preocupações e ansiedades, temores e afl ições, ao mesmo tempo que se habilita para solucionar as questões pendentes com recursos provenientes de dimensões mais profundas do próprio ser, muito além da limitada personalidade.


Uma compreensão correta da transitoriedade dos fenômenos materiais favorece atitudes positivas e
harmoniosas quando surge a necessidade de se resolver os problemas e desafi os que se apresentam a todos, e que são, frequentemente, inevitáveis. O que muda é a forma de serem encarados e as atitudes que se tomam diante deles, as quais podem ser mais ou menos saudáveis e resolutivas, a depender do estado de consciência e consequentemente das atitudes de quem as enfrenta. Eis uma visão da jornada humana, que se apresenta ao mesmo tempo como desafi o e convite: estar na matéria sem se escravizar a ela; andar no mundo encontrando, a cada passo, oportunidades de aprender,
servir, compartilhar e amar, prosseguindo rumo à plenitude pelos infinitos caminhos da vida.

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