Cultivando a Alegria

Por André Sallum | 19/02/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Graças à nossa herança animal instintivamente tendemos a fugir do que nos cause dor e sofrimento e a buscar o que nos satisfaça e traga prazer. No entanto, existe em nós, humanos, algo além da mera busca de satisfação física, graças às dimensões emocional, mental e sobretudo espiritual.

Nesse sentido, a alegria se destaca como uma das mais belas expressões anímicas. A alegria pode ser concebida como um estado de júbilo que brota do mais profundo do ser, mesmo diante de circunstâncias capazes de provocar sofrimentos. Inversamente, é possível a alguém sentir grande tristeza ainda que esteja na posse de bens materiais e em meio a prazeres e satisfações.

Segundo o ponto de vista sob o qual estamos considerando a questão, a satisfação, seja de necessidades biológicas ou de desejos emocionais, é superficial e tende a ser efêmera e instável. A alegria, por outro lado, pode ser considerada como um estado interior que promove bem-estar e serenidade, e não depende, até certo ponto, de fatores externos. A alegria nada tem a ver com gargalhadas ruidosas, fanfarronices e palhaçadas, as quais podem, como frequentemente ocorre, esconder dramas pessoais e mascarar sofrimentos íntimos. Claro que o bom humor é agradável e necessário à quebra de rigidez e ao relaxamento de tensões. Todos necessitamos de momentos de descontração, de cultivar e expressar o bom humor e, na medida do possível, de provocar o riso e, sobretudo, o sorriso em alguém. O bom humor é capaz de contaminar os outros com um estado de ânimo positivo.

A percepção e a expressão da alegria podem ser positivamente influenciadas por vários fatores: a fé sincera; o reconhecimento da natureza espiritual do ser; a certeza da transitoriedade de todo e qualquer problema, dor ou sofrimento diante do infinito da vida; o conhecimento de determinadas leis que regem a existência e a obediência a elas.

O contentamento sempre foi manifestado pelos seres que alcançaram elevada condição espiritual, os quais, mesmo passando pelas mais árduas provações e enfrentando as mais duras adversidades, nunca deixaram de revelar alegria.

Nos desafiadores tempos atuais a expressão da alegria associada à confiança irrestrita nos desígnios divinos e o compartilhamento desse estado com os demais seres pode ser um dos serviços mais importantes que se podem prestar àqueles que se encontram abatidos, desanimados, descrentes, os quais muitas vezes precisam, antes de tudo, de um olhar compassivo e de um sorriso sincero.

O correto cumprimento dos deveres, a superação de qualquer vício, seja físico ou psíquico, a dedicação a tarefas criativas, a doação a algum serviço altruísta, o engajamento em obras construtivas, a comunhão interior através de oração e meditação – essas e outras práticas abrem caminho à alegria, permitindo que se expresse com maior fluidez. A alegria se manifesta especialmente nos momentos em que o ego torna-se silencioso, em que desejos, críticas e conflitos estão, ainda que momentaneamente, ausentes. É então que ela brota espontaneamente e é possível sentir que renova e embeleza a vida. Daí a importância de se buscar uma existência mais simples, pura e harmoniosa, a fim de que a alegria – esse ingrediente que dá especial colorido à vida – possa se expressar mais livremente. A alegria é como melodia ou poesia da alma. Traz encanto à vida, por isso é tão preciosa e por isso torna-se hoje, mais do que nunca, necessário que seja resgatada, cultivada e compartilhada.

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