Desculpe o desabafo

Por Rubinho Vitti | 11/01/2021 | Tempo de leitura: 3 min

Desculpe o desabafo. Mas não há condições de pensar em um 2021 esperançoso. A contagem regressiva apenas começou para o mais do mesmo que está por vir. Essa amálgama dilacerante em que vivemos ainda tem muito o que destruir.

Como desculpa pelos nossos erros, colocamos a culpa no amontoado de semanas e meses que formam um ano. "Vamos esquecer 2020", dizem. Mas o tempo tem culpa? Não somos nós os culpados, organizadores deste calendário ridículo que só anda para trás?

O Brasil vive seus piores dias e ainda temos pelo menos mais dois longos anos dessa maldição. O gigante acordou e é um bebê chorão acéfalo, segurando uma mamadeira de formato fálico. Estamos vivendo um teste de resistência macabro como um bando de loucos correndo em círculos.

Esse filme de terror é tão ruim que não dá mais medo, mas enoja com seus efeitos especiais toscos e seu roteiro amalucado. Quem ocupa o maior cargo do país é um vilão espetaculoso que bafora suas entranhas com um sorriso de serial killer no rosto. Essa representação sebosa, insossa, sem cor, babenta e estúpida que nos faz regurgitar a cada minuto.

Um verme que tem uma faixa presidencial cruzada em seu tronco e goza a cada nova desgraça que acontece sob seu nariz de Pinóquio delirante.

Precisamos mais do que uma vacina. O Brasil precisa de um vermífugo intravenoso para expelir tanta podridão incrustada nesse cordão umbilical eterno que nos liga ao que de mais horrível herdamos e que estamos fadados a carregar pelo resto da vida.

O que aconteceu com nossos pais, avós, tios e tias? Antes diziam: "menino, sai desse computador", agora ficam com a cara grudada em uma tela, repetindo um mantra de barbaridades estocadas garganta adentro, acreditando piamente em mentiras, desacreditando amargamente de qualquer sopro de verdade. São pessoas sozinhas raptadas por um vício tecnológico que hoje é a sua maior (má) companhia.

O Brasil não passou no teste da Covid, pois contamina-se de ódio e desinformação articulada, que inflama nossa febre medíocre de um mal enraizado nessa terra arrasada.

Se existe um propósito desse vírus pela Mãe Natureza, não é para fazer com que a humanidade saia melhor dessa, pois não vai sair. O egoísmo e a vaidade humana não vão diminuir. Não vamos aprender nada! Não vamos tirar lições disso!

Depois da Covid, vamos realmente nos preocupar com nossa saúde? Com a manutenção do nosso planeta? E o plástico nos oceanos? E o aquecimento global? E as queimadas, a destruição de habitats de centenas de espécies?

Nos emocionamos com os bichinhos animados da Disney, com historinhas que nos fazem chorar com suas trilhas sonoras repletas de violinos, mas alguém se preocupou com o Leopardo Nebuloso de Formosa, o Mergulhão-de-alaotra, Íbex-dos-pirenéus, o Rinoceronte-negro-ocidental, a Foca-monge-do-Caribe, a Tartaruga-das-galápagos-de-pinta? Só para citar alguns poucos dos muitos extintos nas últimas duas décadas. Vamos nos preocupar com o tigre, o panda, a baleia azul, o urso-polar ou a onça pintada, que estão por um fio de desaparecer da Terra?

Estamos na ponta do iceberg. Não sou vidente, mas está claro que dias piores virão. E não me venha com seu misticismo dizer que sou pessimista e que estou atraindo coisas negativas. O universo deve só querer uma coisa de nós neste momento, nos expelir.

Desculpe-me o desabafo. Se lhe desejar algo neste início do calendário gregoriano, que seja um Feliz Ano Velho.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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