É tempo de orar

Por Marisa Bueloni | 19/11/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Temos de rezar todos os dias e fazer de cada momento uma oração. Não há outro modo de enfrentar um cotidiano marcado por tanta violência e por acontecimentos que nos assombram cada vez mais. Existe tanta tragédia em toda parte e nos sentimos impotentes diante da dor.

A dor do próximo, às vezes, nos parece tão distante, porque a vemos pelas cenas da tevê. A dor da perda de pessoas amadas, vidas devastadas para sempre, convivendo com o medo, o infortúnio, o desamparo. A perda dos bens materiais, da casa, do lugar amado onde se viveu a vida toda. De repente, a pessoa está só, sem os seus entes queridos, apenas com a roupa do corpo. Como dar apoio a esta dor?

O tempo está de luto, fechado para o céu azul, pois esta segunda onda do vírus estremece as nações e se incumbe de causar a tristeza sem nome. O coração do homem está assustado com esta implacável sequência de furacões, tremores de terra, e outros fenômenos estranhos atingindo diferentes regiões do globo terrestre.

Faço deste humilde texto uma prece diária para contrapor-se às amarguras destes tempos fatais. Juntar as mãos humildemente, em silêncio, e pedir paz para o mundo, transformando cada momento numa oração interior. Saber que as coisas mais belas da vida estão dentro do nosso próprio coração. A sensação de morte superada pelo frêmito da vida, o anúncio secreto de uma alegria nascitura, de paz benfazeja que dá alívio a todas as dores.

A oração também revigora e traz um novo ânimo ao espírito. Se a alma pede trégua, então é preciso orar com fé. Nestas horas, há algumas coisas de que ninguém deveria abrir mão: a bondade, a ternura, o gesto amoroso, a gentileza, o sorriso, o afeto. Receber e dar. Dizer ao outro as palavras de ouro, que contêm perfume do céu, e ouvi-las também, vindas de quem as aprendeu na luta e na escola da vida. Dizer olhando nos olhos do outro: “Eu gosto de você!”.

Há algumas coisas simples e essenciais que iluminam nossa existência pequenina: uma gaveta bem arrumada, a cama feita, o chão limpo, a água na torneira, o café coado, o pão fresco, uma fruta, um alimento que se come pensando n´Aquele que o criou. Uma roupa que se veste com alegria, uma brisa que passa deixando saudades, um banho perfumado – são algumas maravilhas às quais nem sempre damos o devido valor.

No momento da prece, um raio de luz penetra nossa alma, sobretudo se sabemos rezar pelos outros. Uma prece para quem chega, na esperança de que o novo ser encontre um mundo mais justo e mais humano. Uma prece de réquiem para quem parte, desejando que tenha ido em paz. E aqui rendo uma homenagem aos que partiram recentemente para a Casa do Pai.

Estas são algumas preces diárias, rezadas nas lembranças que a vida vai traçando em cada passo do caminho. Os momentos tão vívidos de um tempo que passou, deixando um aperto no peito. Saudade da infância e do amor dos nossos pais. Saudade dos professores de antigamente, quando a escola ainda era um lugar seguro e ninguém morria de bala perdida. Quando havia um sentido para as coisas.

Mas há algo pairando no ar: restos de esperanças, murmúrios de anjos, sinfonias inacabadas, a sensação de algo muito grandioso e sublime, prestes a chegar. E o que mais o coração permitir. Ou suportar. Não nos falte jamais a capacidade de sonhar.

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