As três marias

Por Marisa Bueloni | 11/11/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Da janela grande de vidro blindex da minha cozinha, vejo as Três Marias. Vejo outras estrelas, Alfa Centauro, Betelgeuse Canopus, Aldebarã, Electra, Gianfar, Vega e Intrometidas que se intrometem na minha cozinha espacial. Acha que vi todas estas? Oras, apenas gosto dos nomes delas.

Não vou dormir esta noite. Porque da janela da minha cozinha, posso ver as estrelas noturnas brilhando para mim. Fixei-me numa delas. Vi quando piscou um olho. Desmaiei. E quando dei por mim, Deus me amparava. Sem palavras.

Foi um momento de puro êxtase. Tomei um copo d´água, e era o mais caro dos champanhes; passei creme de ricota numa torrada e era um caviar raríssimo; pensei em alguma coisa e foi a ideia mais luminosa e inteligente que jamais tive.

São aqueles arremedos de genialidade que nos assaltam de repente, num momento, quando imaginamos ter descoberto a roda. Existe solução para tudo neste mundo, nós é que não sabemos expandir a nossa consciência. Hoje só se fala nisso, no salto quântico para a 5ª dimensão e estou sentada numa poltrona bem confortável, esperando o acontecimento.

Mas, ali, na cozinha, fiquei quieta, ouvindo as estrelas falando comigo a linguagem dos Anjos. Eu o vi. O meu Anjo. Ele estava muito, muito distante. E eu acenei para ele. Nem sempre Anjos querem contato conosco. Temos de compreender seus humores. E saber que, quase sempre, a distância é salutar e correta.

Atualmente, vivemos de todas as profecias, todos os prognósticos e previsões – as visões apocalípticas de um mundo que vai se transformar, nosso planeta entrando nas suas dores de parto, contorcendo-se para dar à luz uma Nova Terra.

Os vídeos, textos diversos e inúmeras matérias na internet aludem a um tempo novo que irá chegar e mudar tudo. Estamos vendo mudanças na economia, no mundo financeiro e no sistema bancário. Como reles mortais, olhamos desconfiados para as novidades de plantão, mas temos de nos render a elas, prisioneiros do sistema para sempre.

Mudou tudo ou mudei eu? A pandemia trouxe um leve sentimento de depressão dentro do peito. Às vezes, é imperioso chorar. Chorar como se um luto sem nome nos devorasse. O que mudou perante a mínima poesia no sumidouro da vida? Onde estamos nós? Acompanhando a estrela Vega, possivelmente, perseguida pelo Sol da nossa galáxia, enquanto a luz caminha ao redor de nós.

Nem sei mais o que dizer, perdão, de tão assustada estou. Está tudo tão estranho, ultimamente. É algo arrebatador. Não sair de casa, ou somente para o necessário. E as necessidades da vida ficaram pequenas, sem importância. Pra que fazer pé e mão? Não vamos a lugar algum. Unhas limpas, bem cortadinhas e lixadas, e estamos reluzentes.

Mas o cabelo, ah, o cabelo! Este tem de estar limpo e impecável, louro e clareado com o sol que faz tudo dourar, da nossa alma até os pelos dos braços. Bendito seja o sol de cada dia!

E assim, como não sou boba nem nada, encerro este arremedo de crônica, porque é preciso ter sabedoria para os finais. E agora, silêncio. Deixa a vida ir se cumprindo, um dia de cada vez. Devagar eu chego lá, devagar chegamos todos!
Ah!… Deixa as Três Marias lá no alto, visíveis pela janela de vidro da minha cozinha. Três pontinhos tão distantes e belos, brilhando dentro deste pobre peito.

Até a próxima!

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