Reconhecer o que realmente importa

Por André Sallum | 06/11/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Diante dos fatos mais significativos da vida, sobretudo dos momentos difíceis e desafiadores pelos quais todos passamos, o valor atribuído às atitudes humanas geralmente muda e revela-se o que é realmente importante e significativo. Tomemos alguns exemplos do cotidiano.

Quem está sedento considera essencial um copo de água, não importando a procedência de quem o oferece. Para quem sente fome, o prato de comida é sempre bem-vindo, independentemente das crenças religiosas de quem o oferta. A quem esteja em situação de penúria, o socorro espontâneo de um estranho é de inestimável valor, qualquer que seja sua orientação política. O sangue transfundido ou o órgão transplantado que salvam vidas não têm sua qualidade dependente da classe social, cor da pele nem situação financeira do doador. Em situações de catástrofes, desastres ou calamidades, revela-se a boa vontade que auxilia de mil modos, a qual representa a fraternidade em ação. Nessas e em outras circunstâncias, rótulos religiosos, condição econômica, origem étnica ou orientação sexual de quem quer que seja tornam-se irrelevantes.

Quem faz o bem revela-se, pela própria ação que pratica, estar a serviço do bem, não importando condições sociais nem credenciais externas, sempre superficiais
e transitórias.

Parece que estamos atingindo um ponto de amadurecimento coletivo a partir do qual tendemos a considerar as coisas e os fatos cada vez mais por seu valor intrínseco, e não apenas por convenções, sejam sociais, políticas ou religiosas. As estruturas rígidas, estanques e excludentes do passado parecem ruir a cada dia, dando lugar a uma interação, a uma inter-relação que cada vez mais transcende limites e barreiras antes tão nítidos.

A disponibilidade, a integração e o compartilhamento cada vez maior de informações torna necessária uma maior flexibilidade mental, aliada a uma ampliação de consciência, a fim de permitir e promover uma revisão de valores, graças à qual se mudem atitudes e posturas, se rompam barreiras limitantes e se reconheçam e promovam os valores dignificantes da vida, favorecendo a expressão da fraternidade – único modo de se conviver de modo saudável e feliz.

Se todos compartilhamos o dom da vida e a necessidade de conviver, por que não compartilharmos o que temos de melhor, a serviço do bem comum, removendo – mediante um processo de educação – as barreiras, os preconceitos, os condicionamentos, a intolerância que nós mesmos criamos, sejam sociais, políticos, religiosos, culturais? A condição humana atual requer uma visão mais ampla da vida, pois pede que nos tornemos cada vez mais conscientes de que somos cidadãos planetários e universais, interdependentes e compartilhando o mesmo mundo, o qual vem sofrendo, em nome de um falso desenvolvimento, toda sorte de destruição e degradação. Aqueles que percebem essa realidade estão se unindo cada vez mais em torno de ideias e ações transformadoras, a fim de construir uma nova e diversa sociedade, considerando todas as formas de vida, humanas, animais e vegetais, dignas de respeito, reverência e cuidado – atitude essa verdadeiramente religiosa. Essa postura se reflete em ações sustentáveis, educadoras e curativas para o ser humano e todos os seres que compartilham a morada planetária. Desse modo, talvez consigamos, ao menos aqueles que despertam, perceber a tempo o que mais importa, dando mais valor e atenção às ações urgentes em defesa da vida de todos os seres.

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