Motivações e estímulos para agir no bem – 2

Por André Sallum | 11/09/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Dando continuidade às reflexões sobre o que motiva à realização do bem, sobressaem, na história da humanidade, aqueles que atingiram um estágio mais avançado no desenvolvimento da consciência, após prolongado trabalho de autoeducação e purificação. Tendo alcançado um estado de comunhão mais intensa com a fonte da vida, conforme demonstrado pela sua própria existência, tornaram-se, em todos os povos e culturas, exemplos pela conduta nobre e pura assim como pela prática incondicional do serviço altruísta. Esses seres desenvolveram e manifestaram a tal ponto sua natureza essencial que o bem passou a ser o seu estado natural. Isso os tornou incapazes de qualquer ato que não fosse de bondade, fraternidade e paz. Passaram a não mais agir motivados por nenhum temor de supostos castigos divinos nem pela mera compreensão intelectual de certas leis, mas porque o bem passou a ser a manifestação espontânea do seu ser, não lhes custando nenhum esforço nem sacrifício. A existência de tais seres, presentes em todas as épocas e lugares, pode servir de valiosa inspiração e de estímulo a nós que ainda caminhamos e oscilamos entre luzes e sombras, virtudes e vícios, acertos e erros.

Esse nível de maturidade consciencial – meta de todo e qualquer processo de educação para o desenvolvimento espiritual – permite que o bem passe a ser a expressão genuína do ser. É o caso dos que já conseguiram construir o chamado “reino de Deus” dentro de si mesmos, e, portanto, carregam um paraíso portátil no próprio coração. Não mais dependem de fatores externos para praticarem o bem, para cumprirem suas tarefas nem para realizarem seu propósito existencial. A prática do bem é expressão verdadeira e espontânea do seu mundo interior e fonte, como afirmam e demonstram, de indescritível alegria.

Ao se reconhecer, após paciente e perseverante processo de desenvolvimento interior, a luminosa essência de todo indivíduo, a começar de si mesmo, torna-se possível sua manifestação na dimensão humana. Embora estejamos longe de manifestar plenamente esse estado, o simples fato de o reconhecermos e de nos abrirmos a ele permite que comece a se expressar, gerando bem-estar e harmonia interior. Quem aspira a esse estado e a ele se entrega torna-se progressivamente mais preenchido – de alegria, paz, sabedoria e amor – e consequentemente converte-se em doador dessas dádivas, realizador de boas obras, pacificador, curador, educador, ou seja, qualquer que seja sua tarefa, age como colaborador a serviço de um mundo melhor.

A fim de favorecer essas conquistas existem caminhos espirituais e religiosos que atuam em todos os níveis de consciência e, cada um na sua função, se presta a auxiliar o ser humano nas suas diversas necessidades e aspirações, sendo, portanto, merecedores de respeito e consideração. Sob tal perspectiva, a melhor religião para alguém é a que o torna melhor do que seria se não a conhecesse nem a praticasse.

Claro que é desejável – e estamos certos de que um dia todos chegaremos a esse nível – que se faça o bem de modo espontâneo e natural. No entanto, até que nos aproximemos dessa culminância espiritual, podemos nos utilizar dos inúmeros recursos e ferramentas que as religiões e as instruções espirituais nos fornecem a fim de que melhor pratiquemos o bem, na medida de nossa compreensão e de nossas possibilidades, certos de que a realização do melhor ao nosso alcance é tudo o que nos é solicitado pela Vida.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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