Motivações e estímulos para agir no bem – 1

Por André Sallum | 04/09/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Na sociedade, a fim de se conviver em relativa harmonia em meio a tantas diferenças individuais, tornam-se necessários códigos de conduta e mecanismos de controle do comportamento das pessoas. Desde a mais remota antiguidade, líderes e governantes viram-se diante da necessidade de estabelecer padrões e normas, a fim de assegurar um dinamismo social minimamente funcional e estável. Além disso, procurou-se estimular os indivíduos à prática do que se convencionou considerar o bem, a fim de se obter o necessário progresso e promover o bem-estar social.

Com esse propósito foram implementadas leis e regulamentos a fim de se evitar, ou ao menos minimizar, ações prejudiciais ao interesse coletivo e ao bem alheio, com respectivas sanções e punições no caso do seu descumprimento.

As religiões também estabeleceram códigos de conduta, baseando-se nas revelações e prescrições dos seus fundadores e mestres, e posteriormente nas interpretações de seus líderes. Os adeptos desses movimentos tinham, e ainda têm, motivações religiosas para evitarem o que consideram pecado, por receio de castigos e punições, e para buscarem o bem, na esperança de receberem os correspondentes prêmios, nesta vida ou além da morte.

Dentre a ampla variedade de concepções espirituais, há sistemas religiosos de caráter ameaçador ou punitivo cujos membros sentem-se constrangidos a uma obediência rígida aos princípios da crença adotada, muitas vezes agindo mais por medo do que por virtude, pelo receio das consequências dos maus atos mais do que pelo impulso de fazer o bem. Tais movimentos não deixam de ser uma tentativa (que, nos tempos atuais, tem se tornado cada vez menos eficiente), de se controlar certas tendências humanas indesejáveis. Se tais sistemas não produzem pessoas genuinamente bondosas, ao menos minimizam, mediante mecanismos externos de controle e repressão, os efeitos danosos de impulsos desenfreados e de tendências menos fraternas. Mesmo que ainda não tenham alcançado as mais elevadas dimensões educativas nem libertadoras, e embora longe de promoverem a prática espontânea e incondicional do bem, esses sistemas de crenças, ao lado das leis vigentes, têm sido necessários no sentido de regular certas tendências humanas, a fim de que muitos dos nossos impulsos sejam contidos ou orientados em sentido construtivo.

Quando, graças a um gradual processo de amadurecimento psicológico e espiritual, bem como a uma correta educação, compreendem-se determinadas leis que regem a vida, e passa-se a ter consciência de que toda e qualquer ação gera consequências inevitáveis ao seu autor, o qual, cedo ou tarde, direta ou indiretamente, receberá os efeitos do que haja provocado. A compreensão desse princípio desperta no ser maior senso de responsabilidade e traz nova motivação à prática do bem. Passa a seguir cada vez mais os ditames da própria consciência, a qual, mediante a intuição, aliada às instruções recebidas e assimiladas, o estimula à constante realização do melhor, a benefício de todos.

É cada vez mais conhecido o fato de que fazer o bem beneficia primeiramente quem o pratica, ao lhe enriquecer a vida e produzir satisfação e alegria. Isso torna importante a busca, o reconhecimento e a promoção dos mecanismos que motivem as pessoas a manifestá-lo e que favoreçam a sua realização, a fim de que a prática do bem seja cada vez mais a expressão do interior de cada um.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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