Um pouco de ternura

Por Marisa Bueloni | 10/08/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Tento não perder nada, nem uma só vírgula do que leio, nem a cena de um belo entardecer, tampouco uma noite linda de lua cheia. Sempre de vigia, sentinela das coisas invisíveis como costumo dizer, pois das visíveis já somos guardiões. Guardamos também no peito coisas como honra e dignidade, beleza, caráter, nobreza de alma, retidão, buscando viver a reta intenção. “Vigiai e orai sem cessar”.

Não quero perder a ternura, por mais dor tenha sentido nestes tempos. Por mais que a decepção e a amargura nos marquem, tenhamos no coração a chama do perdão e da esperança. Por mais difícil seja nossa luta no lugar onde estamos, ó, que Deus nos guarde! Não canso de pedir aos anjos e santos que nos cerquem com sua presença divinal.

Sem perder a ternura, tento um poema. Sem perder a ternura, faço a cama benfazeja onde repouso meu corpo cansado no fi nal de um dia cheio. Lençóis recém-dobrados, guardados com zelo e carinho na gaveta da cômoda que é só deles. Nada se mistura com a sagrada roupa de cama e esta sacralidade envolve nossos sentidos quando dormimos e sonhamos.

Nosso quarto amado! O quadro maravilhoso de Jesus da Divina Misericórdia, conforme o Mestre apareceu à Sua secretária, a santa irmã Faustina Kowalska, da Polônia. Ali está o pôster emoldurado na parede, bem visível e ao qual me dirijo nos momentos de angústia e aflição.

Temos vivido o isolamento forçado e isso nos afeta emocional e psicologicamente. Estamos longe das pessoas queridas e quando as vemos, mantemos a distância necessária. Não podemos abraçar e beijar nossos netos amados. O afeto está engessado, nossos braços se esqueceram de como é abraçar. Mas nosso coração está cada vez mais cheio de amor. Procuramos pelas nossas melhores palavras, se temos de ter contato com o outro, porque este tempo estranho carece de ternura.

Onde está a ternura e a paz, Senhor? Onde a convivência pacífica, o respeito e a consideração pelo próximo, gentileza e cordialidade? É preciso sair da própria casa, em busca de silêncio e de paz! Sei de pessoas que se mudaram de seus apartamentos por não suportarem os ruídos do andar superior. Venderam sua residência por causa de vizinhos barulhentos, o som alto do rádio, os gritos e algazarras.

Até quando quem perturba o outro prevalecerá sobre a lei, sobre o Estatuto do condomínio, sobre o bom senso que nos rege a todos, quando a questão é o respeito ao próximo, no seu direito ao silêncio e ao sossego? Até quando teremos de lutar pela paz?

Em tempos de pandemia, quando as pessoas se veem confi nadas em seus lares, os atritos acontecem. Muitos julgam que a quarentena é oportunidade para fazer festas, reuniões até altas horas da noite em casa, esquecendo-se dos vizinhos.

Ah, o mundo carece de educação, gentilezas e ternuras. Mas conhecemos, por experiência mística, as delicadezas de Deus. Vivemos, sim, momentos de sublime enlevo e êxtase, na companhia de uma beleza inenarrável. E por causa disso, confiamos na providência amorosa do Pai Criador do céu e da terra.

Estou em busca do silêncio e da paz. Da ternura que ainda possa existir. Talvez ela esteja à minha procura também?..

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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