Superação dos conflitos

Por André Sallum | 24/07/2020 | Tempo de leitura: 2 min

A vida humana tem sido de tal modo permeada de conflitos que chega a ser difícil sequer imaginar um modo de viver plenamente harmonioso. Os conflitos se apresentam em diversos graus, desde pequenos problemas íntimos que facilmente são solucionados até situações graves, as quais, cada vez mais frequentes, requerem tratamento especializado ou ajuda emergencial.

Há perturbações no interior do ser humano e outras, decorrentes delas, que se mostram nas relações interpessoais, entre grupos que se colocam uns contra os outros, se hostilizam e se agridem mutuamente. Nessa escalada, pode-se chegar ao absurdo das guerras, as quais representam (dentre inúmeros significados possíveis) o extravasamento de desequilíbrios de coletividades inteiras que se entregam às ações mais brutais e devastadoras.

Um conflito, seja de que natureza for, pode revelar desarmonias íntimas, as quais, a fim de que possam ser superadas, precisam ser primeiramente reconhecidas e identificadas. Ocorre que temos relativa facilidade em reconhecer os conflitos alheios bem como os supostamente distantes de nós, mas geralmente oferecemos grande resistência em reconhecer aqueles que são reflexos dos nossos problemas interiores e que requerem um amplo trabalho de educação e transformação.

Todos, em alguma medida e em certos momentos, experimentamos conflitos, pois fazem parte da estrutura psíquica que temos elaborado e desenvolvido ao longo da nossa história como humanidade. O que parece relevante é encontrarmos meios para não permitir que assumam dimensão incontrolável, enquanto buscamos modos de viver cada vez mais harmoniosos, o que nos torna cada vez menos suscetíveis aos conflitos. Nesse sentido, as psicoterapias e diversas propostas terapêuticas integrativas oferecem ferramentas eficazes para o autoconhecimento e a necessária autotransformação a fim de que muitos desequilíbrios sejam evitados, enquanto outros, quando já instalados, possam ser adequadamente solucionados.

Pode-se afirmar que existe conflito onde haja uma visão de dualidade, oposição e confronto. Por exemplo, se considerarmos errados, merecedores de censura e de correção aqueles que simplesmente pensam e agem de modo diferente de nós, obviamente estaremos favorecendo a polarização, aumentando o atrito e gerando tensão crescente, até a possível eclosão de situações incontroláveis de violência e destruição. Certamente qualquer ação, proposta ou movimento de teor fundamentalista, extremista e impositivo torna-se corresponsável pela ampliação e disseminação dos conflitos da sociedade e pelas suas consequências destrutivas.

Os conflitos coletivos, sejam políticos, sociais, religiosos ou outros, são desencadeados, alimentados e perpetuados por indivíduos interiormente desequilibrados, e somente deixarão de ocorrer quando as pessoas que compõem a sociedade forem suficientemente educadas, integradas e saudáveis.

Uma vida individual, grupal e social baseada em valores como respeito, aceitação, inclusão e compaixão, que reconheça e garanta o direito à diversidade e à liberdade, que promova ações cooperativas, participativas e integrativas, certamente favorece um convívio mais harmonioso. A fim de que isso seja possível, faz-se necessária significativa mudança nos padrões de conduta e de atitudes, o que evidencia a importância e a urgência de um processo educativo muito diferente dos modelos predominantes na atualidade.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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