Teresa nossa de cada dia

Por Rubinho Vitti | 13/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Existe um Brasil festivo, colorido, apaixonado. Um Brasil cheio de samba no pé, de batuque, de rock, de pop, de axé e o que você quiser. Há um Brasil iluminado no meio deste que teima em ser escuridão. E é esse Brasil que é traduzido todos os dias, da melhor maneira possível, com a música e o carisma único da cantora e compositora Teresa Cristina.

Desde que a pandemia do novo coronavírus começou, Teresa Cristina, iluminada como só, decidiu preencher o vazio de seus seguidores na internet, e também o seu, entrando ao vivo para cantar, a capella, ora sozinha, ora acompanhada de amigos do outro lado da tela. Todas as noites, religiosamente, ela está lá.

A brincadeira acabou se tornando um ofício. Assistir às suas lives é uma forma de escapismo. Ou melhor, de relembrar uma realidade que um dia já foi mais presente no nosso cotidiano. Teresa canta o Brasil que está em suas veias e que muitas vezes a gente até esquece que existe.

A primeira vez que a vi foi igual a todo mundo. Abri seu perfil e logo ela apareceu com um sorriso gigantesco cobrindo toda a tela, plena com seus pulmões e sua eterna inspiração.

Talvez você, como eu, tenha se perguntado no começo: mas quem é essa tal de Teresa Cristina? A maioria de nós, paulistas, não tão antenados no universo do samba carioca, conheceu ela agora que os holofotes da rede mundial de computadores naturalmente a iluminaram.

Teresa, como praticamente toda cantora, começou sua carreira nos bares. No caso, no Rio de Janeiro, sua terra natal. A Lapa era o endereço oficial para vê-la cantar, principalmente samba. Mas seu interesse por música é eclético, tanto que na adolescência era fã de grandes divas internacionais, como Donna Summer, a bandas de rock, como Iron Maiden, sem deixar de cair nos braços de Noel Rosa, de Gil, Caetano, Bethânia, Zeca Pagodinho, entre tantos outros.

Toda esse ecletismo faz de Teresa um dicionário musical ambulante. Isso fica claro em suas apresentações online, que começaram despretensiosas, com ela cantando e chamando convidados, muitos desconhecidos do grande público. Mas a qualidade de suas lives são tão boas, com um ar de descontração encantador, que mais e mais gente foi chegando, tanto para assistir como para participar dessa aglomeraçãozinha virtual para lá de deliciosa.

As lives também são temáticas, muitas vezes homenageando um compositor ou intérprete. Outro dia, cantando Gilberto Gil durante mais de duas horas, Teresa descobriu que o próprio estava assistindo. Ela chamou ele para entrar ao vivo e, debulhando em lágrimas, viu seu ídolo e amigo desbaratinado, em sua cama, tocando seu violão só para ela (e para nós, público, que chorávamos juntos).

E lá já passaram Caetano, que aliás é fã de carteirinha, Marisa Monte, Chico Buarque, Lulu Santos, Mônica Salmaso, Jorge Aragão, Alceu Valença, entre muitos outros que, além de enaltecerem nossa música, ainda realizam bate-papos deliciosos, que matam a saudade daquelas longas conversas de botequim.

Essa sensibilidade, muitas vezes perdida por aí, Teresa trouxe de volta para nós. Para esse Brasil nosso de cada dia, que segue resistindo, forte como sempre foi, apesar dos pesares.

É ele que faz a vida fluir, a alegria brotar, insistindo em pulsar o sorriso, e às vezes lágrimas, mas de emoção. O Brasil de Teresa é também o nosso e, graças a ela, renasce ao vivo, todos os dias, verdadeiramente verde-amarelo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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