Atitudes diante do sofrimento – 4

Por André Sallum | 10/07/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Além das nossas próprias vivências, quais poderiam ser referências válidas a fim de nos ajudar a lidarmos melhor com o sofrimento e superá-lo? De acordo com a experiência daqueles que o têm enfrentado e solucionado de modo saudável, equilibrado e construtivo, a fé, aliada à serenidade, à paciência e à resignação parecem as atitudes mais adequadas. Resignação que signifique não conformismo improdutivo mas ressignificação e releitura a partir da qual se possam estabelecer novas e melhores condutas. Nesse sentido, uma atitude de resistência e rebeldia ante o sofrer, por exacerbar o antagonismo e ampliar o conflito, tende a agravar e complicar a situação.

Ao mesmo tempo que se busque livrar dos sofrimentos, torna-se fundamental que se evite gerar matrizes de novas dores, pela consciência do que se está realizando com a própria vida, pois, como se sabe acerca das leis que regem o destino, se colherá conforme o que houver sido plantado.

O conhecimento espiritual que tem sido compartilhado com a humanidade ao longo da história ensina, de variados modos, que felicidade é um fruto que se colhe da felicidade que se semeia. Quando o indivíduo compreende em profundidade tal realidade, sente e manifesta na própria vida cada vez mais amorosidade e torna-se incapaz de provocar, voluntariamente, sofrimento a qualquer ser, inclusive e primeiramente a si mesmo. À medida que essa compreensão e esse amor se expandem, a inofensividade se estende a toda a Natureza, passando a considerar seus irmãos todos os seres, animais e vegetais, merecedores de respeito, cuidado e proteção.

A consciência da realidade espiritual torna possível extrair lições do sofrimento, dando-lhe uma função evolutiva, ao mesmo tempo que permite compreender que a melhor maneira de se poupar à maioria dos padecimentos é viver em harmonia com as leis da vida e dar um significado maior à própria existência.

O desenvolvimento dessa consciência traz ao ser a compreensão de que aquelas pessoas que o fazem sofrer agem como instrumentos inconscientes de uma lei maior – justa e perfeita – que tudo reequilibra. Sabe que as circunstâncias ou situações aparentemente desfavoráveis são expressões de leis universais. Tal entendimento traz uma aceitação, ao lado da ausência de julgamento em relação a quem o faça sofrer, pois passa-se a ter certeza de que apenas se aprende a lição que se precisa assimilar e que se recebe o que se merece e atrai para si mesmo. Como somente se pode perdoar se algum prejuízo houver sido previamente gerado, isentar de acusações ou retaliações o irmão que haja sido instrumento do seu sofrer mostra-se uma das faces do perdão.

O instinto de autopreservação faz com que todos busquem se livrar do que lhes causa dor e vão à procura do bem-estar. Se as posturas de submissão passiva e fatalista ao sofrimento podem ser paralisantes e desanimadoras, ao favorecerem a apatia e a inércia, aceitá-lo enquanto se busca superá-lo é muito diferente. Uma visão ampla e abrangente da vida, a qual necessariamente inclui a dimensão espiritual da existência, possibilita a serena aceitação das dores durante a caminhada, ao mesmo tempo que estimula o ser a buscar todos os recursos físicos, emocionais, mentais e espirituais para a manutenção da saúde integral ou para o seu restabelecimento, permitindo que, apesar de eventuais padecimentos, prossiga a sua jornada existencial com confiança, otimismo e fé, portanto cada vez mais enriquecida e plena.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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