Atitudes diante do sofrimento - 1

Por André Sallum | 19/06/2020 | Tempo de leitura: 3 min

O sofrimento, que atinge todos os seres, se apresenta de múltiplas formas e se mostra de mil modos diferentes, além da dor e do desconforto físico, fazendo que se experimentem também perturbações emocionais e mentais. Ao mesmo tempo, em condições normais instintivamente se procura evitar o que causa dor e se busca o que promove bem-estar.

Existem sofrimentos inevitáveis, pois estão além da nossa capacidade de alterá-los, e outros evitáveis, a depender de nossas escolhas, decisões e atos. Embora os primeiros tenham caráter de inevitabilidade, até certo ponto pode-se modificá-los ou ao menos atenuá-los, desde que, mediante ações corretas, se corrija o rumo dos acontecimentos. Tal ocorre quando, graças a uma transformação interior, se muda de conduta, gerando novos fatores promotores de harmonia e capazes de alterar o que até então causava sofrimento.

Na vida humana, os sofrimentos podem ter diversos significados, dependendo da forma como são percebidos, assim como das atitudes tomadas diante deles. De acordo com uma concepção espiritualista e evolutiva, podem ser compreendidos como compensação pela lei do carma (de causa e efeito), mecanismos de purificação, impulsos evolutivos, corretivos do caminho, provações ou desafios capazes de despertar potenciais adormecidos.

De acordo com o nível de consciência de cada um, diversas são as atitudes possíveis diante do sofrimento. Uma compreensão mais profunda do significado da vida e das experiências existenciais – favorecida por um caminho espiritual, seus ensinos e revelações – permite que se considere as dores e os infortúnios sob perspectiva mais abrangente e até mesmo positiva. Podemos citar algumas considerações, dentre tantas possíveis, acerca dessa visão. Primeiro, a certeza de que todo e qualquer sofrimento, por mais intenso ou prolongado, chegará a um fim. Essa lembrança da transitoriedade da dor pode torná-la mais suportável, evitando que se entregue ao desespero. Segundo, a convicção de que todo sofrimento tem uma causa justa, o que evita as atitudes de vitimismo e de rebeldia, as quais poderiam agravar as situações. Terceiro, o reconhecimento da responsabilidade individual pelo próprio destino, incluindo nele quaisquer infortúnios que tenham sido criados, e a possibilidade de modificá-los. Quarto, uma ressignificação do sofrer, reconhecendo-lhe alguma função e utilidade, seja corretiva, preventiva, purificadora ou educativa. Corretiva no sentido de recolocar a criatura em harmonia com as leis naturais e com o movimento evolutivo da vida; preventiva quando pequenas dores e dissabores evitam males maiores e mais duradouros; purificadora como processo de despojamento de energias e conteúdos densos que ainda se carregue; educativa quando o indivíduo aprende, pela dor, aquilo que foi incapaz de assimilar por meios mais sutis, passando, a partir de então, a não mais necessitar dela.

No mundo em que habitamos o sofrimento ainda se mostra necessário e por vezes torna-se inevitável – reflexo das condutas humanas em desarmonia com as leis naturais –, até que não mais necessitemos dele, quando houvermos desenvolvido suficientemente o amor e a sabedoria de viver. Isso porque, à medida que a consciência amadurece, os estímulos necessários à evolução se tornam cada vez mais sutis e a dor menos necessária. Portanto, compreender o sofrimento a fim de superá-lo é desafio que se apresenta a todos os seres em busca de uma vida cada vez mais plena.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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