Padrões de consumo e economia

Por André Sallum | 15/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Com o crescimento populacional em todo o planeta e o aumento do uso de bens e serviços, ao lado da crescente escassez de recursos naturais, em boa parte devida ao modo predatório e degradante com o qual o ser humano vem tratando a Natureza, é evidente a necessidade de se fazer um uso mais racional e respeitoso de todos os recursos, preservá-los e recuperá-los no sentido de minimizar os impactos ambientais das atividades humanas.

Se a alimentação, a moradia, a vestimenta e o transporte são necessidades básicas de qualquer ser humano (embora muitas delas não estejam disponíveis a grande parcela da população mundial), torna-se cada vez mais necessário e urgente que se tome consciência da diferença entre o necessário e o supérfluo. Quanto mais se está mergulhado na materialidade, ou seja, concentrado na dimensão física da vida, mais se dá importância aos bens materiais, à sua posse, acumulação ou aquisição compulsiva, pois tal movimento é movido pela ambição e pelo desejo, que nunca se satisfazem, principalmente se induzidos e estimulados permanentemente pela propaganda habilmente desenvolvida.

Fato inquestionável é que o atual modo de vida da humanidade e seu padrão de consumo são insustentáveis, e, a fim de se alterar tal situação, faz-se necessária uma mudança de mentalidade, de referências e de valores, a fim de consegui-lo também nas ações.

Com o propósito de favorecer essa tão necessária mudança, o despertar a consciência espiritual se impõe, ao reconhecer novos valores, permitindo que se entregue a uma vida menos materialista, ou seja, mais despojada e simples, menos consumista e menos poluidora, estabelecendo um novo padrão de consumo, baseado em necessidades mais do que em desejos. Isso obviamente requer um processo de educação no qual se percebam os condicionamentos em que vive a sociedade, e seus efeitos destrutivos sobre a Natureza e a própria humanidade.

Uma educação que inclua a ecologia e a dimensão espiritual da vida permite que se perceba e reconheça a sacralidade da vida em todas as suas manifestações, as quais passam a merecer reverência, respeito e cuidado. Essa visão possibilita um padrão de conduta mais compatível com a preservação dos recursos naturais, evitando, na medida do possível, o seu desperdício e a sua degradação. Permite igualmente que se reduza a produção de lixo e de resíduos, aliviando a Natureza, já saturada, da gigantesca sobrecarga a que tem sido submetida.

Uma mudança de padrão de consumo e uma atitude mais consciente e responsável em relação aos recursos naturais certamente é um processo complexo, com repercussões em todos os níveis da economia e da sociedade, o que requer daqueles que percebem a importância e a urgência do assunto a tomada de iniciativas transformadoras. Já que as grandes instituições ainda não são protagonistas dessas mudanças, porque afetariam seus interesses imediatos, que cada um faça a sua parte, pois temos alguma autonomia no nosso âmbito de influência e de ação.

Sob tal perspectiva espiritualizar-se pode ser não apenas orar e praticar a caridade material (embora tais medidas sejam necessárias e louváveis), mas igualmente perceber o que vem sendo feito com os recursos naturais e suas repercussões desastrosas, procurando, portanto, agir de modo responsável e construtivo, no sentido de colaborar no estabelecimento de um novo padrão de consumo e de cidadania, com vistas a uma humanidade e um planeta verdadeiramente saudáveis.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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