Nossos medos...

Por Marisa Bueloni | 06/05/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Tenho profunda admiração por quem afirma isso: “Não tenho medo de nada”. Conheci uma pessoa assim, intrépida, corajosa, valente. Sem medo do escuro, de injeção, de mula-sem-cabeça, de dentista. Sem medo de correr riscos, sem medo da vida. Eu perguntava: nem de assombração? E ela respondia: “Assombração não existe”.

Há um monte de medo por aí, rondando-nos o tempo todo e também atrapalhando a nossa vida. Tenho alguns medos, confesso. Medo de avião. Já tive alguns sonhos premonitórios e isso me soa como um aviso para não voar. Minhas viagens (já fui até Porto Alegre, numa viagem encantadora e até a Bahia, num verão inesquecível) são sempre de carro.

Uma de minhas mais queridas amigas tem medo de elevador. Uma vez, fomos juntas fazer uma visita para uma pessoa que, na época, morava no 19º andar de um edifício. Ela foi irredutível, subiu pelas escadas. Terminada a visita, cutuquei: “Mas agora, vamos descer de elevador, né?”. Que nada, ela foi a pé novamente.

Creio ter superado, mais ou menos, o medo de falar em público, que faz parte da chamada “fobia social”. Não apenas medo de falar para uma plateia, dar uma palestra, mas também de fazer uma pergunta na aula para o professor, emitir uma opinião num grupo, apresentar um trabalho na escola. Depois, conversando com outras pessoas e colegas, tive a confirmação de que eu não era a única a sofrer terrivelmente com isso.

Não ter medo de nada. Deve ser bom. Não ter medo de se envolver numa aventura perigosa e sair dela machucado para sempre. No corpo ou na alma. Não ter medo da vida. Não ter medo do amor. Há pessoas que têm medo de amar. Medo de ser ferido, de sofrer. Medo de passar por uma desilusão. E por isso, vivem solitários, nunca namoraram. Se houve alguma paixão secreta, também não revelam com medo do ridículo.

Medo do ridículo. Ninguém quer pagar mico, ser pego de surpresa, fazer um papel feio, passar uma imagem de pessoa desastrada, grotesca, ou pouco inteligente. Todos querem brilhar de alguma forma, ter êxito, conquistar um espaço de valor e reconhecimento. Essa é uma luta que envolve o nosso ego numa batalha particular, profundamente desgastante. E que nos traz algum orgulho, certamente.

Medo de ser feliz. Meu Deus, como a gente lê sobre isso nas revistas. Se alguém sofre dele, por favor, vá se tratar urgentemente! Não tenha medo de ser feliz, meu anjo. A vida é tão curta, passa tão depressa e as doenças podem aparecer de surpresa no meio do caminho…
Se você pode ser feliz, seja. Tenha alguns medos, sim. São salutares. É uma espécie de “defesa” natural, em determinadas situações. Medo é uma coisa, fobia é outra. Basta que não sejam medos patológicos, está tudo certo.

Eu tenho medo de algumas coisas. De extraterrestre. De avião. De escorpião. De adoecer e ficar dependente. De perder minha fé. Tenho medo de ver algo que não quero ver. Prefiro viver as coisas deste nosso mundo real e maravilhoso, cheio de belezas. E que nos dão o medo de perdê-las, porém na medida certa, sem grandes ansiedades.

E agora, meus queridos, medo de um tal coronavírus… Vade retro!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.