Que Deus nos proteja!

Por Marisa Bueloni | 29/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Estamos em plena pandemia de 2020. Fico estarrecida ao escrever esta frase, a terrível constatação. Curioso é que, em todo começo de ano, pululam videntes fazendo previsões. Vai morrer uma celebridade. Sim, provável e previsível, celebridades também morrem. Mas nem um deles previu o alastramento mundial desta peste que castiga a humanidade. Teria o Juscelino enviado uma carta ao presidente da China?

Pode ser brincadeira, não sabemos, mas uma mulher conta que matou um coronavirus. Num sertão da vida, e com toda a sua gentil simplicidade, ela o matou a chineladas. Limpou a casa, deixou tudim brilhando, e de repente viu uma espécie de carrapatinho andando no chão. Era ele! Bem parecido com o que ela vê na tevê. Pegou o chinelo e o matou. Feliz da vida.

Ah, dona Lola, se pudéssemos matar essa matéria invisível com o nosso chinelo! Digo, no meu humilde, porém lúcido entendimento, que este é um monstruoso caso de saúde pública. Estou vendo o surrealismo, pegando-o com as mãos e sentindo na boca seu gosto amargo. Covas antecipadamente abertas, caixões enterrados em valas comuns, coveiros vestidos parecendo astronautas, Nova York de joelhos e o resto do mundo num silêncio sepulcral. Países europeus com ruas desertas, cheias de assombro e medo.

O que aconteceu, senhores? Um vírus teria escapado, acidentalmente, do Instituto de Virologia de Wuhan, onde pesquisam o coronavírus em morcegos? Um dos pesquisadores se infectou durante suas atividades e levou a peste para fora? Mas ouvimos o fantástico cientista afirmar que não é nada disso, nenhuma outra teoria da conspiração, o vírus “está na natureza”, ele é “natural”.

Não, não é! Recuso-me a crer que este vírus faz parte da Criação. Ele é um acidente de percurso do Gênesis bíblico! Trata-se de um agente infeccioso de alta periculosidade, uma incógnita dolorosa e trágica. O mundo padece dela. Os cientistas e pesquisadores se debruçam sobre seus instrumentos de estudos e análises, buscando a descoberta da cura, da vacina, do remédio absolutamente eficaz.

Existe um evidente ponto de tensão, saúde versus colapso econômico. Atiram-se pedras no presidente que insiste na abertura do comércio e demais atividades empresariais. São igualmente alvo de pedradas os defensores do isolamento social como o meio mais eficaz de se combater a disseminação do vírus, também para conter a velocidade de sua propagação, para não colapsar o sistema de saúde.

A peste atinge a todos, ricos e pobres, gente do povo e da realeza, celebridades e pessoas anônimas, gordos e magros, jovens e idosos, não discrimina ninguém. A peste dispõe de um apetite voraz e basta um organismo mais fragilizado para que ela apresente sua face e sua foice. Traiçoeira, sorrateira.

Até quando usaremos máscaras e temeremos sair de nossas casas? Até que não haja mais um único caso de pessoa infectada e doente? Ah, essa infecção generalizada significa a septicemia do mundo. Já leram que a Terra, num estágio de incontrolada indignação, vomita seus males?

Mas, ó Terra, dá uma trégua! O que podemos oferecer para tua náusea? Já recebeste corpos demais. Covas abertas no luto e na dor. Não aguentamos mais a conta de tantos mortos. Cantam e tocam nas sacadas dos edifícios, mas é um canto fúnebre. Mal cessa a música, retorna a angústia. Íntima celebração do infortúnio. Isolados no inacreditável.

Eu creio, Senhor! Mas aumentai a minha fé!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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