Meu mundo parou...

Por Marisa Bueloni | 24/04/2020 | Tempo de leitura: 3 min

O meu, o seu, o de todos nós. Nosso mundo parou, nossas vidas pararam. Essa paragem imposta, necessária, forçada, estranha. O dia ficou diferente, o céu de um azul inquieto e uma lua cheia apareceu para nos dar alento.

Que Quaresma nós vivemos! Jamais iremos nos esquecer deste tempo quaresmal de 2020. Jamais. E que Semana Santa foi esta, com o sentimento de luto dentro do peito, a leve brisa de abril tocando nossa face, a sensação de que ainda vamos lutar muito.

Ando pela casa e ela nunca me pareceu tão acolhedora e tão aconchegante. Sozinha, cumpro minha rotina diária, realizo as minhas sagradas tarefas domésticas, enquanto canto louvores ao Pai Criador. Há um sol maravilhoso no espaço próximo da cozinha, uma boa ducha na parede ao fundo, cadeiras brancas, um lugar pequenino onde acalmo meu coração.

Depois de tudo feito, sento para rezar, ler, ver um filme no Netflix. Faço compras pela internet, os produtos são entregues na nossa casa, estes são os tempos. Roupa de cama, de banho, livros, esponjas de algas marinhas para limpeza facial, leggings, cremes para cabelo e até travesseiro já comprei pela internet.

O travesseiro, confesso, foi um desastre total. Vi num destes canais de vendas da vida. Pior que achando o máximo, comprei dois. Na época, meu marido olhou, olhou, e perguntou: o que é isso? Oras, respondi, é um travesseiro! E ele: mas desta altura? Sim, desta altura, meu bem, vamos ver como é dormir com este monstro cheio de flocos dentro, a moça explicava na tevê que você “amontoa” os floquinhos por fora com sua mão, fica ideal, do seu gosto. Mas na prática, não era assim. Meu marido agradeceu, atirou longe, e ficou com o velho mesmo. A tonta aqui ainda insistiu por algumas noites… E a dor no pescoço?

Inconformada, peguei uma tesoura, abri o bendito e voaram flocos pelo quarto todo! Tirei metade. Costurei de volta. Pronto, agora sim! Ah, o que fiz foi destruir o meu inimigo das noites em claro. Acabei com o dito cujo, formavam “buracos” aqui e ali e aposentei o meu também. Não recomendo a ninguém comprar travesseiro pela internet…

Outro dia, olhei meus vestidos, minhas saias, as roupas do armário. De repente, elas me pareceram tão novas! Há quanto tempo não as uso! Só visto roupa de ficar em casa, aquela bermuda velhinha de elástico na cintura, uma camiseta de priscas eras e um chinelinho para passear de um cômodo a outro.

Mas, se as filhas vêm até o abrigo trazer algo, me arrumo. Se é dia de pedir as frutas, me arrumo. Se o moço da farmácia vem trazer os remédios, me arrumo. A gente não pode perder o pique, nem nesta quarentena. Uma roupinha bonita, para abrir a porta, uma pinturinha no rosto, o cabelo bem penteado, para não pensarem que o isolamento afetou nossa mente…

Há quem esteja em duas ou mais pessoas em casa. Eu sou viúva, moro sozinha e estou só no isolamento, por causa de um vírus chinês que transformou o mundo nesta pandemia inacreditável. Uns acham que chegou o Apocalipse, foi aberto o selo da peste. Outros veem nisso um castigo divino. Mas homem precisava desta parada, diz a maioria.

Vamos sair todos mais fortalecidos? No corpo e na alma? Todos tomando Vitamina C, D, passando meia hora diária no sol e se alimentando bem? Ah, que Quaresma, meus amigos! Que Semana Santa foi esta de 2020! Jamais esquecerei, jamais…

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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