Coronavírus na Irlanda, exemplo de liderança

Por Rubinho Vitti | 27/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Quando foi anunciado o primeiro caso confirmado de coronavírus na Irlanda, no dia 29 de fevereiro, não demorou nem dez dias para que fossem cancelados os desfiles do principal feriado do país, o St. Patrick’s Day, considerado o carnaval irlandês, que reúne mais de 500 mil turistas apenas em Dublin, capital da República. Quando a atitude foi tomada, em 9 de março, eram “apenas” 21 casos confirmados no país.

A primeira morte veio no dia 11, coincidindo com a declaração da OMS sobre o Covid-19 ser uma pandemia. Naquele dia, já eram 43 casos confirmados, o dobro em apenas dois dias. Até ali, o governo dizia para as pessoas apenas serem vigilantes.

No dia seguinte, o primeiro-ministro Leo Varadkar veio a público para anunciar o fechamento de todas as escolas, faculdades e instituições públicas, além limitar pessoas em estabelecimentos. Ele também pediu para quem pudesse trabalhar em casa, que o fizesse. “Eu sei que estou pedindo às pessoas que façam sacrifícios enormes. Estamos fazendo isso um pelo outro. Como uma nação podemos salvar muitas vidas”, disse Varadkar em seu pronunciamento.

No primeiro fim de semana, alguns pubs não seguiram as regras e o governo decidiu ser mais rígido, fechando mais de 7.000 bares e casas noturnas existentes no país.

Até então, pessoas que perderam seus empregos e haviam pago impostos em 2018, poderiam entrar com o seguro-desemprego, mas muitos estudantes, estrangeiros, com trabalhos temporários, não sabiam o que fazer. Não demorou muito até que surgisse uma medida emergencial.

O governo resolveu pagar 203 euros semanais para todos que ficaram sem emprego durante a crise. Basta se cadastrar online ou enviar uma ficha pelo correio para começar a receber o benefício em até sete dias. Há três dias, com novas medidas anunciadas, o governo aumentou o valor para 350 euros semanais.

Além disso, pediu que as pessoas só saiam de casa para tarefas essenciais. Grupos em locais públicos não podem ultrapassar quatro pessoas. Ele deu mais poder à polícia irlandesa em agir em caso de desrespeitos às normas. “São ações sem precedentes para responder a uma emergência sem precedentes”, disse.

Imigrantes que têm seus vistos para vencer ganharam dois meses de extensão automática para permanecer na Irlanda.

Ontem, o congresso aprovou novas regras que vão congelar os aluguéis e os locatários também serão impedidos de despejar seus inquilinos durante o período emergencial.

Todos os esforços do governo irlandês para barrar a transmissão do novo coronavírus começaram a ser mais rígidos após a primeira morte. Em um mês, agora são 1,819 casos e 19 mortes registradas na Irlanda. Poderia ser muito mais.

Em todos os pronunciamentos, o primeiro-ministro foi sensato. Não houve risadinhas ou piadinhas. Não teve ataque à imprensa, muito pelo contrário. Todas as recomendações feitas pela Organização Mundial da Saúde foram ouvidas.

A Irlanda vive um impasse político após eleições ocorridas em fevereiro. Varadkar recentemente pediu renúncia e segue no cargo apenas esperando a votação do congresso para que um novo líder seja eleito. Mesmo assim, ele não levou a seus discursos um tom eleitoral. Foi sempre prático e didático, anunciando as medidas e, principalmente, agradecendo as pessoas por seguirem as regras de confinamento.

A Irlanda já espera entrar em recessão neste ano, ultrapassando mais de 15 bilhões com gastos emergenciais contra o coronavírus. Como ela vai se recuperar? Não se sabe ainda, mas nada está deixando de ser feito para que seus cidadãos – e os estrangeiros que vivem por aqui – consigam continuar sobrevivendo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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