O mundo não é mais o mesmo

Por Marisa Bueloni |
| Tempo de leitura: 3 min

Não, não é. O mundo não é mais o mesmo. Temos de admitir que muita coisa mudou em algumas décadas e vemos os sinais dos novos tempos em toda parte. Na arte, na música, no cinema, na política, na moda, nos costumes, no tempo e no espaço.

Dia destes, um amigo me mandou um vídeo de uma linda igreja que foi fechada e transformada em bar, em lugar de encontro e diversão. Comentei com ele sobre a “crise de fé”. Na Europa, dezenas e dezenas de templos cristãos estão sendo vendidos, por falta de fiéis. As igrejas ficam às moscas, vazias. E acabam se transformando em museus, restaurantes, bares, casas noturnas. Há quem compre uma igreja ou capela para morar, com o altar ao fundo da sala.

Talvez isso se deva a um possível enfraquecimento nas vocações sacerdotais, o que torna escasso o número de padres para celebrar a liturgia, ouvir confissões, realizar casamentos e batizados. Muitos nem estão mais se casando, vivem em uniões estáveis.

O mundo mudou. Sobretudo porque quase não ouvimos mais a voz do outro. O WhatsApp faz o contato diário entre as pessoas e ainda as diverte com o envio de vídeos, piadas, mensagens as mais diversas, o que seria impossível de viva voz.

Tudo é perto e distante ao mesmo tempo. A digitalidade desta nossa era assombrosa transformou o universo da informação e da comunicação. Basta lembrar o tempo da carta e do correio. Da máquina de escrever Lettera 32, cor-de-rosa, da Olivetti. Eu tive uma. E para trocar a fita preta, as mãos ficavam sujas. De tempos em tempos, tinha de pegar uma agulha de costura e limpar os tipos. Sobretudo a letra “o”, que ficava cheia e quase não se fixava mais no papel.

Depois da carta escrita, colocar no envelope, fechar com cola e ir até o Correio para comprar o selo e despachar. Carta simples? Sim. E lá ia a nossa missiva Brasil ou mundo afora, levando semanas para chegar ao destinatário. O remetente ficava à espera da resposta e, se quem recebeu demorava a ler, eram mais outras semanas de ansiedade.

Quem já namorou por carta sabe do que se trata. Tinha uma amiga que fazia o seguinte: ela passava batom, levava a folha aos lábios e a boca ficava marcada no papel. Era um jeito romântico de mandar um beijo ao amado. Também usava-se perfumar as folhas da carta. Eu, confesso, cheguei a colocar uma pétala de rosa dentro do envelope. Mas o namoro não vingou. Despetalei a rosa em vão…

Hoje, os beijos e as rosas que enviamos também são virtuais e frios, mas colocamos palavras bonitas junto deles para transmitir calor, beleza, afeto. Se o mundo mudou, mudamos com ele, sem perder a ternura que nos encanta, sem deixar de lado a essência do que realmente importa para todos nós.

Importa não permitir que as mudanças mudem o nosso coração, os nossos valores, o nosso senso moral, a nossa bela história de vida. Há tanto de sagrado em nossas trajetórias e não iremos nos jogar sem juízo no rio do senso comum, só porque é moda e todo mudo usa ou faz. Não. Temos de observar se as mudanças são benéficas e se não nos roubam a fé.

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