Mulheres da minha vida

Por Rubinho Vitti | 06/03/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Eu tive muita sorte. Quer dizer, venho tendo. Minha vida, ao contrário de muitos meninos, sempre foi rodeada por mulheres. Nunca me dei muito bem com uma turma de garotos correndo atrás de uma bola, pelo contrário, desde criancinha, minhas amizades prevaleceram com as meninas. E elas vêm me ensinando muito, a cada dia, mesmo que seja difícil aprender.

Minhas referências femininas começaram na família, é claro. Minha mãe é a primeira delas. Quando lembro de suas histórias e reviravoltas eu vejo sua alma rebelde. Foi para o convento, desistiu e quando quase achavam que fi caria para titia encontrou meu pai e casou. Foi mãe duas vezes depois dos 30 e tantos anos, um absurdo para o resto da família.

Já ultrapassada a terceira idade, ainda lutou contra todas as suas crenças e preconceitos para aceitar, entender e respeitar o jeito que sou. Hoje, nada contra a corrente para lutar pelo seu país. E isso me deixa muito orgulhoso.

Minha irmã é fora da casinha, mas isso que a deixa mais especial. Não seguiu nem segue padrões estabelecidos. Foi inspiração na arte, no estilo, no comportamento e na amizade. Foi dela que surgiu minha paixão pela música, que saía do ‘radinho’ do seu quarto e chegava até o meu. E então, graças a ela, ganhei o gosto pela voz feminina, com mulheres sendo bem mais presentes na minha coleção de discos.

Curiosamente as mulheres também são maioria no resto da família. Na parte do meu pai, são quatro tias. Minha mãe, com 14 irmãos, 8 são mulheres. E mais dezenas de primas.

Na amizade, sempre fui fi el às garotas. Algumas delas levo comigo para sempre. Quantas me questionaram, me desafiaram e me inspiraram. Foi para elas que contei todos os meus segredos.

Na escola, as professoras marcaram o meu aprendizado. Pequenininho, lembro delas sempre tão lindas, atenciosas e sorridentes. Na faculdade, inteligentes, astutas, talentosas. São poucos os homens que tenho tanto carinho pelo ensino que me deram, mas elas, sem sombra de dúvida, foram as que mais me ensinaram.

No trabalho, todas as minhas chefes foram mulheres, desde o meu primeiro emprego. Orientadora de estágio, chefe de assessoria de imprensa, minhas amadas editoras. Que saudade de cada palavra, mesmo que nem sempre tão doces, mas que me esculpiram como profissional.

Longe de casa, hoje divido um apartamento com mais três meninas. É difícil, eu sei, viver com mulheres é ter que aceitar muita coisa, deixar outras de lado, brigar, mas depois fazer as pazes. Elas ficam na TPM juntas, pense! E eu aqui no meio desse mar de hormônios. Não teria cenário melhor para o meu atual roteiro.

Apesar de ser rodeados por elas a vida toda, ainda peno para conseguir fugir dos pecados de ser um homem. Duvidei delas, achando que não eram capazes. Ofendi com atos que para mim não tinham valor algum. Cortei suas vozes, achando que a minha deveria ser mais alta. Quis impor minha ideia, achando que deveria explicar o que elas já sabiam. Reconhecer e controlar meu machismo é uma luta diária.

São Hermínias, Márcias, Marias, Santinas, Terezinhas, Irenes, Lucias, Aparecidas, Iolandas, Clarices, Irmas, Margaridas, Guiomares, Justinas, Vivians, Karens, Karinas, Fernandas, Carolinas, Mirelas, Marianas, Monicas, Renatas, Rosanas, Ednas, Anas, Martas, Adrianas, Ritas, Cássias, Bethânias, Ettas, Amys, Chiaras, Michelles, Julias, Milenas, Valérias, Priscilas, Elenis, Udes e tantas outras que só tenho uma coisa para dizer: obrigado!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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