Você pode se arrepender, sabia?

Por Rubinho Vitti | 21/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Oi, você aí. Sim, você mesmo, leitor deste jornal impresso, um dos poucos que ainda resistem no interior de São Paulo. Você pode estar tomando o seu café da manhã lendo esta coluna ou deixou para mais tarde e já é hora do jantar. Pode aguardar na sala de espera de um dentista ou notou este artigo ao esticar a folha para o cachorrinho fazer xixi. Você pode ter comprado o jornal ou é assinante. Lê pela primeira vez a coluna ou sempre acompanha? Seja como for, de alguma maneira você veio parar por aqui. Então vamos conversar?

Sim, vamos falar de política. É chato, eu sei, mas penso que é necessário. E estou falando principalmente com você, caro leitor eleitor que votou no Bolsonaro. Se você é de Piracicaba, você integra um grupo de 158 mil pessoas, 78,51% do eleitorado da cidade. Passado pouco mais de um ano de mandato, será que se a eleição fosse hoje você ainda votaria nele?

Que Bolsonaro solta uma fala polêmica e absurda por dia a gente já sabe, mas nesta semana todos os limites foram extrapolados. Vamos relembrar: em entrevista coletiva no dia 18 de fevereiro, Bolsonaro, para se esquivar de perguntas em que ele precisaria explicar acusações sobre sua campanha em 2018, fez um comentário machista, misógino, falso, criminoso e, porque não dizer, escroto sobre a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo.

Patrícia é autora de uma reportagem que denunciou a compra de disparos automáticos de mensagens falsas via Whatsapp pelo PSL para impulsionar Bolsonaro e difamar seu oponente Fernando Haddad, do PT. A matéria resultou na CPI da Fake News, que está em andamento no Congresso. Sobre a repórter, Bolsonaro disse: “Ela (Patrícia) queria um furo. Ela queria dar o furo (duplo sentido sobre o ato sexual e o furo de reportagem) a qualquer preço contra mim.”

Bolsonaro fez a insinuação após o depoimento de Hans River à CPI. Ele foi fonte da reportagem de Patrícia, onde soltou várias acusações graves contra o governo, depois voltou atrás e, agora, afirma que Patrícia teria o assediado para conseguir o material.

Como todo machista é sempre burro, ele e o clã Bolsonaro, que compram essa ideia, esqueceram que toda a entrevista foi gravada e documentada, algo que a Folha já disponibilizou tanto em reportagens após o depoimento de Hans como em áudios das conversas. Hans, por sua vez, não apresentou prova alguma de sua acusação contra a repórter e será denunciado por mentir em uma CPI, o que é crime.

E então, caro leitor bolsonarista, eu fico pensando em você e no eleitorado da minha cidade. Também fico pensando na mídia piracicabana. O ataque a Patrícia, além de ser um ataque às mulheres, é também um soco no estômago do Jornalismo. Todas as associações de jornalistas soltaram notas de repúdio a Bolsonaro. Mas nos jornais do Lugar Onde o Peixe Pára o silêncio é ensurdecedor. E não só sobre o comentário recente do presidente, mas sobre tudo o que de mais podre acontece diariamente no governo. Por que será? Medo ou conivência?

São poucos os colegas articulistas que fazem críticas ao governo e raramente, ou até posso dizer nunca, há notícias sobre aspectos negativos do governo Bolsonaro, aquele que é recordista entre os presidentes democráticos no ataque à imprensa.

A política não é um muro de concreto! Você pode mudar de opinião, pode deixar de apoiar alguém, mesmo que tenha apertado “confirmar” na urna eletrônica. Mais do que isso, você pode cobrar para que o candidato em quem votou tenha uma postura digna do cargo que exerce. Que tal tentar fazer isso daqui em diante?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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