Convivência e Relacionamentos (2)

Por André Sallum | 14/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Se conviver é parte inevitável do viver, no ser humano a convivência reveste-se de caracteres especiais, pois, além dos aspectos instintivos e gregários comuns aos animais, recebe o colorido das emoções, a interferência dos pensamentos, conceitos, ideias e ideais, do temperamento e da natureza de cada um.

As relações humanas ocorrem em diversos níveis, dependendo do estado de consciência de quem se relaciona, de como vê a si mesmo e de como considera os outros com quem convive, num espaço em que são desempenhados determinados papéis psicológicos e sociais, funções e tarefas específicas. Embora todos se relacionem, parece que ainda são poucos os que se interessam seriamente pela qualidade das relações e seu significado, seu potencial de expressar beleza, harmonia, alegria e paz.

Como quaisquer outros aspectos da vida, as relações humanas são dinâmicas, sujeitas a interferências e transformações, por isso mesmo podem merecer especial atenção e ser objeto de educação e purificação a fim de cumprirem função construtiva e significativa na existência individual e coletiva.

Os caminhos espirituais, vinculados a religiões formais ou não, cujo objetivo é despertar, desenvolver e iluminar a consciência, têm como uma de suas propostas e consequentemente dos seus efeitos o aprimoramento dos relacionamentos, pois os seres que se empenham em se educar e cultivar o melhor que há em si, obviamente expressam tais conquistas na sua forma de se relacionar.

Nesse contexto de educação integral, as relações humanas podem ser vistas sob uma perspectiva mais ampla. Isso permite que os relacionamentos se deem não apenas no nível externo e superficial da personalidade, com todos os problemas, condicionamentos, conflitos e obstáculos disso decorrentes, mas sim em níveis mais sutis, entre as consciências que se reconhecem como tais, o que propicia uma profunda transformação no modo de se relacionar. Tais relações, baseadas no reconhecimento da consciência que se é e não apenas no ego (emocional e mental), podem expressar o que cada um tem de mais puro e elevado, possibilitando a expressão de relações mais íntegras, sinceras e verdadeiras. Quem reconhece a si mesmo e a todos como consciências dotadas de atributos divinos e essencialmente positivos – ainda que não plenamente manifestos –, permite que as relações sejam permeadas de compaixão, compreensão e boa vontade, os quais constituem valiosos elementos para um convívio melhor.

Vivemos tempos tumultuosos, em que as relações humanas – reflexos do interior de cada um – têm se apresentado em crescente crise, o que evidencia a necessidade e a urgência de um novo modo de nos relacionarmos.

Diante dessa perspectiva, qualquer processo educativo deveria, obviamente, contemplar a educação dos relacionamentos como ferramenta imprescindível à construção de um convívio social mais saudável e harmonioso, considerando que aquele que se submete a um processo de autoconhecimento, de aprimoramento do caráter e de elevação da consciência, inevitavelmente expressa as aquisições resultantes desse empenho nos relacionamentos. Ao se conquistar emoções equilibradas, pensamentos lúcidos e uma mente livre (tanto quanto possível) de condicionamentos, preconceitos, crenças limitantes e conflitos, imprime-se nos relacionamentos esses padrões de conduta, o que pode contribuir verdadeiramente na solução de muitos dos problemas de convivência, o que constitui constante desafio para todos nós.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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