Religiões e Espiritualidade (2)

Por André Sallum | 14/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

O sentimento religioso, a busca pelo sentido mais profundo da vida e a necessidade de saciar a sede da alma são parte indissociável da existência humana, em todos os lugares e épocas, reflexos do incansável anseio de compreender sua origem, natureza e destino.

As religiões, no seu aspecto exterior e social, são a forma organizada e institucional de se expressar a religiosidade humana, em diferentes aspectos e níveis de consciência, portanto segmentada em múltiplas denominações, limitada por condicionamentos e crenças, e moldada por tradições e roupagens socioculturais.

Por ser inerente ao ser humano, inúteis se tornam quaisquer tentativas de pessoas ou grupos intolerantes de destruir as crenças alheias e suas manifestações, mesmo que por supostos argumentos de cunho científico que contestem o que alguma religião considere verdadeiro e fruto de revelação divina.

As religiões e os caminhos espirituais, dentre as múltiplas formas de se compreendê-los, podem ser entendidos como roteiros ou mapas na caminhada evolutiva humana. Do mesmo modo que numa viagem na dimensão material, com relação à jornada espiritual há inúmeras orientações e indicações, mais ou menos precisas, acerca dos caminhos rumo à plenitude humana.

Instrutores espirituais, sabendo das diferentes necessidades de cada ser, grupo ou povo, têm apresentado revelações, princípios morais e normas de conduta a serem seguidos, adequados a cada época, situação ou nível de consciência. Daí a diversidade de propostas espirituais e religiosas e o surgimento de novas revelações. Do mesmo modo que um viajante que conhece o destino e a rota a seguir prescinde de informações de terceiros, quem se encontra mais amadurecido no caminho espiritual pode se sentir suficientemente seguro para se guiar. Por isso as propostas espiritualistas mais maduras são emancipadoras, possibilitando ao ser empreender sua jornada de modo cada vez mais livre e independente.

Da mesma forma que não faria nenhum sentido alguém se agarrar a uma placa ou seta à beira da estrada e deixar de prosseguir a viagem, não se justifica prender-se a conceitos, condicionamentos ou dogmas religiosos e deter a própria jornada evolutiva. Se os mapas, placas e setas auxiliam muito em qualquer viagem, as religiões e os instrutores espirituais também são de grande valia, desde que corretamente considerados. À medida que se desperta a consciência, através de um processo de autoconhecimento e de desenvolvimento de percepções internas como a intuição, mais se descobre o mapa e a bússola no interior de si mesmo e, portanto, torna-se cada vez mais independente de fontes externas, sejam pessoas, grupos ou instituições, para prosseguir no caminho de autorrealização.

Quem haja atingido tal etapa do caminho não precisa – embora possa, caso necessário ou conveniente – se vincular a religiões organizadas, nem tem a vã pretensão de exclusividade quanto à posse da verdade ou de meios para a salvação de si mesmo ou dos outros. Essa conquista, por enquanto de uma minoria que tem se tornado referência, exemplo e inspiração a muitos de nós, parece de grande importância, pois permite que se reconheça tanto a relatividade quanto a validade dos caminhos religiosos e propostas espiritualistas diferentes dos seus, favorecendo o florescimento e a expressão de respeito e de genuína fraternidade, indispensáveis, hoje mais do que nunca, a um convívio pacífico, solidário e construtivo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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