O problema não são os outros

Por André Sallum | 07/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Na vida de relações e no cotidiano, frequentemente se apresentam problemas de relacionamento interpessoal, seja em casa, no ambiente de trabalho, nos locais de culto religioso ou no convívio social. É comum, numa tentativa de fugir ao difícil trabalho interior de autoconhecimento para a necessária transformação, atribuir-se aos outros a origem dos próprios sofrimentos. Com facilidade encontramos alguém a quem atribuir a causa de nossos insucessos, desequilíbrios e frustrações. Até no campo religioso há quem atribua a espíritos ou demônios a culpa exclusiva pelos problemas e tentações que enfrenta. Sem negar a possibilidade nem a importância de tal influência, o que nos parece é que esse argumento tem sido excessivamente usado por alguns como tentativa de eximir o ser humano da responsabilidade sobre si mesmo. Ainda quando se julgue estar sob alguma influência negativa, seja de que natureza for, cada um continua sendo responsável pela própria realidade, pois através de seu pensar, sentir e agir determina as influências sob as quais se situa.

Diante de certas pessoas e de algumas relações difíceis, problemáticas ou desafiadoras, se não podemos evitá-las nem mudá-las, temos a possibilidade de ressignificá-las, saindo da posição de vítimas, tirando-lhes peso desnecessário e percebendo-as portadoras de lições valiosas como espelhos a revelarem aspectos desconhecidos de nós mesmos.

É muito mais fácil atribuir aos outros a culpa pelos nossos problemas do que assumir a parcela de responsabilidade que nos cabe na condução da própria vida. Se é compreensível não percebermos o quanto nos colocamos como reféns ou vítimas de pessoas, situações e crenças, tentando nos eximir de assumir o protagonismo da nossa existência, somente nos libertaremos das incontáveis limitações que nos cerceiam a marcha quando reconhecermos e assumirmos a plena responsabilidade por nosso modo de viver, ou seja, quando formos suficientemente honestos com nós mesmos, com os demais e com a vida.

Segundo uma perspectiva holística e integrada, cada um determina, consciente ou inconscientemente, as condições em que se encontra, por escolha, atração, necessidade ou merecimento. De acordo com a conhecida lei de causa e efeito, a todo instante se está modelando o próprio futuro e as circunstâncias, favoráveis ou desfavoráveis, em que se irá viver. Situações aparentemente injustas ou casuais são, sob essa óptica, a consequência de escolhas feitas no passado, próximo ou remoto. Essa visão, que em essência corresponde a diversos ensinamentos espirituais, ressalta a autonomia individual, evitando que o indivíduo se vitime e atribua culpa a outrem pelo que lhe venha a ocorrer.

Qualquer pessoa que se encontre empenhada num processo de desenvolvimento integral percebe, cada vez com maior clareza, o quanto é responsável por tudo o que acontece na sua vida, e o quanto seu modo de pensar e sentir, suas escolhas, crenças e atitudes determinam as circunstâncias em que vive e as situações que enfrenta.

Sentindo-se colaborador do próprio destino, pode-se mais facilmente desenvolver a vigilância quanto à própria conduta, aprofundar-se no autoconhecimento e no consequente aprimoramento do caráter, cultivar as virtudes, assumir de modo cada vez mais pleno o rumo da própria vida, libertando-se de condicionamentos, inseguranças, amarras psicológicas, dependências, crenças negativas e demais mecanismos limitantes.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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