Na sabedoria do silêncio

Por Marisa Bueloni | 05/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Minha mãe dizia que o falar é prata e o calar é ouro. Éramos crianças, entrando na adolescência e o dito nos pegava lá no fundo do coração, porque falávamos a não mais poder. Um queria falar mais que o outro. Calar, jamais! Era conversa sem cessar, o dia inteiro, brigas entre irmãos, desavenças entre primos, e ninguém queria calar coisa nenhuma.

O tempo passa, a vida vai mudando de rumo, o corpo cresce, do primário para a faculdade é um piscar de olhos, e vem o entendimento necessário de como proceder. Por algumas razões que nem sempre compreendemos, não calamos. Há quem diga “não levo desaforo pra casa”. Acho tão feio isso, mas... Cada um é cada um.

Já levei desaforo pra casa, engoli muito sapo, deixei a lágrima pendurada ali pertinho dos cílios inferiores, já abracei o travesseiro à noite, me perguntando “mas como é que não respondi na hora?”. Enfim, já calei, sim, quando devia ter falado. E já fiz o contrário, com grande pesar e arrependimento.

Minha irmã mais velha, dona de profunda ciência e sabedoria, diz sempre que somos donos do nosso silêncio e escravos da nossa palavra. Feliz de quem fica mais ou menos quieto numa conversa e pondera antes de pronunciar-se. E nada promete. Dizem que não devemos sair para comprar quando estamos muito eufóricos. Vamos nos empanturrar de coisas inúteis. Tampouco devemos tomar uma decisão quando estivermos alterados, aborrecidos com a vida e o mundo.

Sim, devemos estar no nosso “estado normal” para gerenciar nossa vida, aguardar a ocasião propícia para realizar um negócio, ou mesmo tomar aquela decisão importante, da qual não podemos nos arrepender. Vejo, com grande clareza, que o silêncio nos ajuda a decidir. É na quietude da nossa casa, na intimidade do nosso quarto, que podemos refletir com calma quando nos defrontamos com a necessidade de agir sobre um determinado problema.

Na sabedoria do silêncio reside toda resposta. Deus nos fala na oração, na paz, na meditação. Com serenidade, começamos a desenhar na nossa mente um quadro de resoluções e de certezas nas quais confiamos plenamente. A sensação que brota desta segurança é maravilhosa! Sentimo-nos maduros quando conseguimos resolver, sozinhos, a venda de uma casa e a compra de outra. Surge em nosso íntimo um orgulho bom, legítimo, juntamente com a ideia de que podemos ir além, realizar mais que isso, pois somos capazes, competentes, sérios.

No silêncio reinam todas as outras coisas. Até mesmo as invisíveis, que pertencem a outro plano, aparentemente inatingível para nós pobres mortais. Vivemos uma realidade que nem sempre nos agrada. Nem todos estão satisfeitos com suas vidas, o trabalho, a profissão, o emprego, o dia a dia. Ou monótono demais, ou extremamente cansativo e agitado.

Notamos que na vida quase não há meio-termo. Ou é ou não é. Ou vamos ou ficamos. O tal “ser ou não ser”. As decisões nos chamam de minuto a minuto. Não nos damos conta de quantas atitudes são tomadas durante um dia inteiro. E todas necessitam da nossa reflexão ponderada, do nosso discernimento, da nossa sabedoria.

Na sabedoria do silêncio reside a maturidade da nossa decisão. E que ela nos beneficie com a paz e o bem!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.