Em sol maior, Júlia e Tô Mendes

Por David Chagas | 19/01/2020 | Tempo de leitura: 3 min

Júlia e Tô Mendes, as duas, num mesmo diapasão. A primeira, escreve. A segunda, toca. E juntas, as duas, brincam com habilidades, talento e dom, sensibilidade e beleza. Esperei 2020 para contar mais.

Conversa de Cordas, sei dele, por ouvir as muitas gravações que recebo. Quanto Tô Mendes e Alexandre Wuensche me têm ajudado com suas interpretações, dedilhando cordas, nas diferentes peças musicais que executam, capazes mesmo de ter dado som e tom ao meu ano velho, fazendo-me, a mim e ao ano, muito mais felizes.

Conto mais. Maria Antonieta Sachs Mendes, a Tô, a quem conheço desde seu primeiro ano universitário, foi das alunas que ficaram comigo, vivendo em mim, nesta afeição que nasce do relacionamento escolar, para não acabar jamais. Coisa dos tempos antigos de professor e aluno, quando o educador bem-fazia o acolhimento, para colher, passados anos, a recompensa de seu respeito e carinho.

Nesta época, os alienígenas, sabiam dar aulas, mas desconheciam, com seus trejeitos e piadas, o sentido pleno da ação a que se propunham. Valeram-se do momento de obscurantismo e medo, de atropelo aos direitos individuais, do prejuízo imposto às ciências humanas, quando se obrigava as exatas a se distanciassem delas como se não pudessem emaranhar-se. O cenário cultural de hoje revela o legado deixado.

Muitos, por exemplo, não entendem quando Júlia Martins, filha de Maria Cláudia e Ivo Martins, brilha nos Estados Unidos onde vive há alguns anos e cursa Artes. Já escrevi dela. Orgulha-me poder falar de seus feitos e suas vitórias e vê-la reconhecida por quantos conhecem seus trabalhos acadêmicos, a começar pelo reitor que sabe bem da sua função pedagógica. Quantos, no Brasil, em igual função, se ocupam de seus alunos e seus feitos? Mr. Allen Sabinson, o reitor, sabe disto.

Júlia, na forma inteligente como age, no meio em que está e nas atitudes que toma em favor da vida universitária, em tudo, me traz Tô Mendes à lembrança. À Júlia, não pude ensinar. Não pude, em momento algum, ajudá-la a pensar em favor de sua própria inteligência. Não fui quem, no ambiente escolar que frequentou, pôde revelar princípios que permitissem investigar motivos que distorçam, disciplinem ou orientem o comportamento humano, permitindo refletir a essência das normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social. À Maria Antonieta pude ensinar.

Junto, então, Júlia e Tô Mendes, uma, por reavivar em mim, no ocaso, o brilho do sol do dia, como se pudesse, uma vez mais, acercar-me da sala de aula, desafiando outros professores a, comigo, provocar no aluno o senso crítico. Como Júlia. Do jeito como faz. A outra, porque, passados mais de quarenta anos de nosso primeiro encontro, soube entender que o dogma que regia aquela universidade divergia, e muito, da cabeça do jovem professor que insistia em defender a liberdade de ação e de expressão, para muito mais tarde, vê-la transformar-se por esta e outras tantas qualidades e seus dons, numa promotora cultural sem precedentes entre tantos daquela geração.

Vez por outra, encontro nas minhas páginas das redes sociais alguma canção, cujo som, cujo tom me conduz à vida em sol maior, nas cordas de Maria Antonieta e de Alexandre Wuensche, numa deliciosa conversa de cordas.

Sorte a nossa. Júlia e Maria Antonieta têm raízes em Piracicaba, levando para tantos lados, nos brasis e fora deles, a cidade e a cultura nossas, revelando, o Brasil que todos queremos mostrar aos outros. Ambas, por sua luz, afinadas em Sol Maior.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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